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Holocausto: Chelmno, o primeiro campo da morte de Hitler

Construído pela Alemanha nazista na Polônia ocupada, o local inaugurou um novo e cruel sistema de extermínio: o uso do gás

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Membros da comissão de crimes de guerra examinam van móvel de extermínio na qual judeus foram mortos
Por Salus Loch
Foto Divulgação/jewishgen.org

Há 79 anos, em 8 de dezembro de 1941, o campo de extermínio de Chelmno, construído pela Alemanha Nazista na Polônia ocupada, inaugurava nova etapa do terror durante a Segunda Guerra Mundial: o extermínio em massa de judeus e ciganos por meio do uso de gás. Lá, entre o fim de 1941 e o começo de 1945 foram assassinadas entre 200 mil e 320 mil pessoas, conforme diferentes fontes.

Concebido na aldeia de mesmo nome, a área ficava a 60 km da cidade polonesa de Lodz sendo, também, o primeiro local fora da União Soviética onde os judeus foram aniquilados em escala.

Finalidade

Segundo o Yad Vashem, o Memorial do Holocausto de Israel, Chelmno (Kulmhof, em alemão) foi criado para servir como centro de extermínio para eliminar os judeus do Gueto de Lodz, bem como os que se encontravam na região administrativa de Warthegau.

Duas estruturas

Chelmno contava com duas estruturas separadas por cerca de 4 quilômetros. A primeira estava localizada dentro da aldeia onde um antigo palácio aristocrático servia como recepção. Nela, os prisioneiros eram mortos via gás. A segunda área era uma floresta próxima (de nome Rzuchowski), e consistia em valas comuns - onde mais tarde foram construídos fornos crematórios. A propriedade e o acampamento na floresta eram cercados por altas cercas de madeira.

As primeiras vítimas

O primeiro grupo de prisioneiros chegou a Chelmno em 7 de dezembro de 1941, com as mortes sendo levadas a cabo no dia seguinte (por coincidência, poucas horas depois que Pearl Harbor, nos EUA, era atingido pelo japoneses - o que acabaria conduzido os norte-americanos à guerra). As primeiras vítimas de Kulmhof incluíram judeus daquela região confinados em Guetos vizinhos, como Kolo, Kowale Panskie, Klodawa e Izbica Kujawska.

Em 16 de janeiro de 1942, as SS começaram a deportar sistematicamente os judeus do gueto de Lodz utilizando vagões ferroviários de carga lotados. Os transportes incluíam judeus vindos da Alemanha, Áustria, Luxembrugo, Boêmia e Morávia. Além dos judeus, outras vítimas assassinadas em Chelmno foram ciganos roma e prisioneiros de guerra poloneses e soviéticos.

Trem + caminhão

Nenhuma ferrovia chegava a Chelmno diretamente. Os deportados eram trazidos de trem para uma estação próxima e, então, carregados em caminhões que os entregavam diretamente na área de recepção do campo. Ali, os oficiais das SS, que usavam jalecos brancos de médicos, diziam aos deportados que eles iriam ao Ocidente (Alemanha) trabalhar. Antes de partir, porém seria preciso ‘tomar um banho desinfetante’.

Desta forma, os nazistas reuniam grupos de 60 a 80 pessoas - homens, mulheres e crianças - no pátio do palacete de onde eram enviados para o andar térreo do prédio. Lá, os prisioneiros se despiam e deixavam objetos de valor. Em seguida, eram levados à uma espécie de adega - que supostamente conduziria ao ‘banheiro’, com direto a setas indicativas e tudo. No entanto, o trajeto os colocava, depois de descer uma rampa, em uma espécie de van/pequeno caminhão adaptado - que logo que estivesse cheio era trancado e selado.

De acordo com o Museu do Holocausto dos EUA, neste momento um mecânico encaixava um tubo no escapamento e ligava o motor do veículo, bombeando monóxido de carbono para dentro da carroceria, assassinando por asfixia, depois de minutos de sofrimento e pavor, todos que ali estavam.

Quando o tubo era desencaixado, o caminhão repleto de cadáveres era levado até a clareira na floresta, onde os corpos eram jogados - por prisioneiros judeus - em enormes escavações. Aqueles que por acaso ainda estivessem vivos eram mortos a tiros.

Três vans/caminhões e dois crematórios

As instalações incluíam três vans/caminhões de gás (de cor preta) e, mais tarde, dois crematórios, cada um com 10 metros de largura e cerca de 6 metros de comprimento.

Capacidade limitada

Para os nazistas, a desvantagem das vans era sua capacidade limitada. Eles não podiam lidar com um grande número de vítimas. O processo também era lento. O sofrimento das vítimas era de pouca preocupação para os SS, que mostravam preocupação com o fato de que a limpeza das vans, após cada uso, era demorada e “desagradável”. Em determinados casos, a morte demorava tanto que as vítimas angustiadas não conseguiam controlar seus intestinos.

Como resultado, outros campos de extermínio construídos posteriormente  adotaram outras formas de extermínio, com câmaras de gás fixas. Apesar disso, Kulmhof adquiriu uma reputação especial na estrutura nazista por ser uma ‘máquina de esmagamento de ossos eficiente’ (Knochenmühle).

Cheiro infernal

Como as covas com os cadávares se enchiam rapidamente, o cheiro de corpos decompostos começou a invadir as aldeias vizinhas. No verão de 1942 as SS e a polícia ordenaram que os corpos passassem a ser queimados ao ar livre (processo executado por presos judeus), em "fornos" feitos com trilhos de trem. Periodicamente, as SS e os oficiais da polícia assassinavam os trabalhadores escravos exaustos e os substituíam pelos recém-chegados.

Fuga

Em 19 de janeiro de 1942, o preso Szlamek Bajler (Jacob Grojanowski) conseguiu escapar do campo, chegando até o Gueto de Varsóvia, onde deu detalhadas informações para os arquivos subterrâneos do Oneg Shabat. Em junho de 1942, através dos canais do underground polonês, seu relatório chegou a Londres e foi publicado. Os efeitos dessa publicação, contudo, não impediram que a barbárie continuasse.

Atividades suspensas

Em março de 1943, os nazistas suspenderam as deportações para Chelmno. À época, eles já haviam aniquilado os Judeus em Warthegau, a exceção daqueles que ficaram no Gueto de Lodz.

O acampamento foi desmontado, e a equipe transferida para a Iugoslávia a fim de lutar contra os guerrilheiros iugoslavos.

A reabertura do campo só se deu em abril de 1944, em conjunto com o plano de liquidar o Gueto de Lodz. Membros da equipe de Chelmno foram trazidos de volta de Iugoslávia para retomar o trabalho.

Retomada

Os transportes para Chelmno foram renovados em 23 de junho de 1944 e, em meados de julho, mais de 7 mil judeus haviam sido exterminados. Nesse ponto, os nazistas decidiram acelerar o processo de liquidação - dirigindo um maior número de prisioneiros do Gueto de Lodz para Auschwitz, onde o extermínio pelo gás Zyklon B era mais ‘rápido e eficiente’.

Ocultando provas

No início de setembro de 1944, como parte do Aktion 1005, os nazistas começaram a destruir todas as evidências de assassinato em massa em Kulmhof, escavando e cremando o corpos que foram enterrados em valas comuns. Em 17 de janeiro de 1945, com a chegada das tropas soviéticas, os alemães evacuaram Chelmno. Enquanto assassinavam os últimos 48 prisioneiros judeus no campo, três deles conseguiram escapar. Coube a eles contar essa triste história.

Saiba mais:

# Dois livros trazem detalhes da ainda negligenciada história do campo de Kulmhof:

“Chelmno e o Holocausto: a história do primeira campo da morte de Hitler”, de autoria de Patrick Montague; e “Chelmno, uma pequena vila na Europa: o primeiro campo de extermínio nazista”, de Shmuel Krakowski.

# Ao longo da Segunda Guerra, a Alemanha nazista estabeleceu seis campos de extermínio (todos eles construídos na ocupada Polônia): Chelmno, Belzec, Sobibor, Treblinka, Majdanek e Auschwitz-Birkenau. Os locais foram estratégicos dentro do Holocausto - usados para realizar o assassinato em massa e de forma sistemática de judeus como parte da Solução Final, primeiro em caminhões de gás e depois em câmaras de gás. Estima-se que 2,7 milhões de judeus, num total de 6 milhões mortos no Holocausto, foram assassinados  nos centros de extermínio. Outras minorias, como ciganos, negros, homossexuais, testemunhas de Jeová, comunistas e inimigos políticos do regime nazista foram aniquilados nestes campos.

 

 

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