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Conheça a história do erechinense Gilberto Caldart, presidente internacional da Mastercard

Antes de completar 22 anos, Gilberto Caldart teve que tomar uma difícil decisão: cerveja ou dinheiro? Hoje, quase quatro décadas depois, percebe-se que o filho de Hugo Caldart (o ‘Sabiá’) e de dona Julieta Maria Todeschini Caldart escolheu a porta certa. Em entrevista ao Grupo Bom Dia (jornal e TV), ele destaca momentos de sua trajetória.

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Em sua passagem por Erechim, Gilberto Caldart conheceu a estrutura do Grupo Bom Dia. Na foto, ao lad
Por Salus Loch
Foto Salus Loch

Poucos filhos de campo pequeno chegaram tão longe quanto Gilberto Caldart, 60, que, desde o ano passado, é o presidente internacional da Mastercard, empresa de tecnologia com foco na indústria global de pagamentos presente em mais de 210 países e territórios, e que emprega 17 mil pessoas.

Aproveitando a passagem de Gilberto por Erechim, ao lado da esposa Rose Meneguzzo Caldart (também erechinense) e das filhas Carmela e Geórgia, o Grupo Bom Dia realizou reportagem especial dentro do projeto ‘Por Onde Andas?’, que visa destacar personalidades locais espalhadas pelo mundo. A seguir, os principais trechos do bate-papo. Confira:

Família, vocação e capacitação

‘Desde muito cedo ajudava meus pais na joalheria da família (Doxa), em Erechim. Sempre gostei de negócios. Identifiquei, ali, que minha vocação era essa. Decidi fazer Administração, e, logo em seguida, Ciências Contábeis, ambos na UFRGS, em POA. A ideia era obter o máximo de conhecimento possível, fazendo o melhor que pudesse’.

Perdigão, cerveja e banco

‘Estava na reta final da universidade, por volta dos 21 anos, quando fui convidado pela Perdigão para estabelecer a distribuição da empresa no Rio Grande do Sul. Foi o meu primeiro laboratório, conciliando aula e trabalho num fluxo de 18 horas de atividades diárias. Ao longo desse período, porém, defini que queria ter outras experiências, e me inscrevi para dois trainees: um da Brahma e outro do Citibank. Acabei selecionado em ambos, e tive de tomar uma decisão delicada: a cerveja ou o dinheiro. Acabei optando pelo Citi para poder comprar as cervejas’.

Oportunidade, braço erguido e garra

‘Meus primeiros anos no Citibank (em POA) permitiram conhecer a instituição e o mercado. Atuei como gerente de contas, de relacionamento e outros, sempre buscando crescer. Até que surgiu uma oportunidade rara e resolvi me apresentar a ela, antes, talvez, de estar pronto. Aos 26 para 27 anos, entendi que valia o risco e, ao tomar conhecimento de que a gerência geral estava aberta, levantei o braço no momento em que eles pediram quem desejaria participar do processo que indicaria o novo ocupante do cargo. Alguns, pela minha juventude, me desestimularam. No fim, depois de colocar meus argumentos para o presidente do banco, Roberto do Vale – quando destaquei os perigos de trazer alguém de fora, em contraposição a apoiar um profissional da casa, cheio de garra e determinação, mesmo sem experiencia – fui aprovado na seleção’.

26 anos de Citi

‘No total, fiquei 26 anos no Citi, tendo passado por cinco lugares. Depois da gerência geral do RS, fui transferido para a Bahia, em 1991, para ser o diretor regional do Nordeste; em 93 assumi, no Rio de Janeiro, a gerência regional Norte do país (que ‘tocava do RJ para cima’). Dois anos depois fui para São Paulo, onde trabalhei na parte de estratégia; em 98, assumi a gerência de Varejo no Brasil e, na sequência, fui para Nova Iorque trabalhar na operação norte-americana do banco, onde residi e atuei por três anos. Em 2002, voltei ao Brasil na presidência do Varejo do Citi com foco na integração de todos os negócios’.

Mastercad, ingresso e presidência internacional

‘Em 2007/2008 senti que minha missão na área de instituições financeiras estava encerrada e comecei a olhar o mercado, buscando algo diferente. Ou fazia aquilo ou encaminhava a aposentadoria no Citi. Digamos que resolvi arriscar. Depois de analisar alguns convites, acabei optando pela Mastercard e assumi o Cone Sul, responsável pelas operações da companhia na Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Uruguai, Paraguai e Peru. Em 2013, me mudei para Miami/EUA, quando assumi a presidência da MasterCard para América Latina até 2018. Os resultados que obtivemos fizeram com que, então, em 2018, eu assumisse a presidência internacional que me dá a responsabilidade sobre todos os mercados mundiais da Mastercard (210 países, sendo em que 80 há escritórios estabelecidos), exceto EUA e Canadá Hoje, 65% do resultado vem da operação internacional. É uma posição interessante com o desafio de conhecer diferentes mercados e tecnologias ligadas aos meios de pagamento, além de interagir com múltiplas culturas. Para se ter uma ideia, em 2019, visitei mais de duas dezenas de países e passei praticamente sete meses fora de Londres, onde é minha base’.

Não somos uma empresa de cartões

‘Embora tenha ‘card’ no nome, a Mastercard não é uma empresa de cartões; somos uma empresa de tecnologia em meios de pagamento, que entrega segurança na transação. Conectamos qualquer tipo de conta a qualquer tipo de conta, desde estabelecimentos comerciais, passando por pessoas a organizações de tecnologia (Apple Pay e Google Pay, por exemplo), fazendo a ‘mágica acontecer’ entre 90 e 100 bilhões de vezes por ano em transações que viajam o mundo e são aprovadas num piscar de olhos’.

Comércio eletrônico e segurança

‘As transações por chip são absolutamente seguras. Estamos indo na mesma direção em relação ao comércio eletrônico, com a geração de padrões via token’.

Onde a tecnologia vai parar?

‘Nossa missão é entregar ao consumidor, instituição financeira ou empresa de tecnologia as melhores opções do mercado Se você imaginar que daqui um tempo o pagamento poderá ser feito literalmente piscando os olhos, temos que estar lá e fazer isso. Na Suécia, por exemplo, já há pessoas com chip implantado em baixo da pele que pagam suas contas desta forma. Hoje, quase 1/3 das transações mundiais são feitas por pagamentos ou instrumentos via aproximação’.

Benefícios da globalização devem ser estendidos a todos

‘Para 2020, e nos anos seguintes, espero que os benefícios da globalização sejam estendidos a todas as classes sociais, o que ainda não aconteceu – e é responsável por inflar ondas nacionalistas. Entendo que o antídoto poderia ser uma melhor relação entre os países; investimento em educação; e o uso das novas tecnologias para beneficiar a todos, via inclusão financeira e digital’.

Economia mundial e brasileira em 2020

‘As previsões, no geral, indicam que devemos ter um 2020 um pouco melhor na economia, mas ainda muito parecido com 2019 em função das questões geopolíticas. Espero que a relação China x EUA se acalme. Temos, também, registros de economias, inclusive na América Latina, que estão sofrendo. Em relação ao Brasil, vejo que a previsão é de que cresça em 2020 mais do que em 2019, algo em torno de 2% - o que numa comparação recente é positivo. O país parece estar numa trajetória positiva’.

Como ser um líder de sucesso

‘O desenvolvimento da carreira, assim como a liderança, pode ser encarado como uma maratona; que é muito diferente de uma corrida de 100 metros. É preciso desenvolver toda a musculatura, e não apenas um músculo, mostrando resiliência e atitude positiva, mantendo viva a capacidade de aprender e a curiosidade intelectual, especialmente, num mundo em constante mudança. Por fim, cultivar a atitude do ‘nós’ e não do ‘eu’, certamente, faz a diferença, denotando como você gerencia o ego e a forma de se colocar a serviço das pessoas, dos clientes e da empresa’.

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