Ulan Ude foi a última cidade visitada na Sibéria, em território russo. Situada às margens do Rio Ude e com um ponto importante da Transiberiana dividindo a mesma. Ulan Ude é a capital da República da Buriácia. Esta pertence à Rússia. Não conseguiu a sua independência, como outras, no desmantelamento da União Soviética, após a Segunda Grande Guerra. A cidade possui fortes laços com o antigo Comunismo, sendo encontrados ainda os símbolos da "foice e do martelo" em prédios públicos. Ulan Ude é conhecida como centro budista importante, embora a língua mais usada seja o russo e a religião a Ortodoxa Russa. Seu povo é muito amistoso e sabe bem viver numa tranquila localidade.
Voltando ao trem
Já havia anoitecido, quando voltamos ao trem para o jantar. Este foi de despedida da Sibéria e, portanto, da Rússia. No início, um cálice com vodca para brindar. O cardápio foi da cozinha russa. Como entrada a famosa "borscht"- sopa vegetariana com cenoura, beterraba e lascas de um tipo de pinhão, diferente do nosso conhecido, acompanhada por bolinhos de peixe. O prato principal foi um "frango ao molho de amendoim", salada de folhas verdes com manjericão e pequenos pães com sabor de camomila. A bela
sobremesa: tortinhas de massa folhada, recheadas com creme de leite, morangos e amoras. Uma delícia! Grande final para esta etapa da viagem.
A Vida dá muitas voltas e com elas descobrimos a Sibéria. Brindes e Vivas ao Brasil foram dados.
Próximos à fronteira com a Mongólia
Na viagem, já estávamos acostumados com as culturas e línguas diferentes. Para anotar: as placas e informações sempre foram na língua russa e nunca na língua inglesa. Conclusão: viajar de carro ou sem um guia local é praticamente impossível! O trem já estava em movimento e fomos informados que logo haveria uma parada para a inspeção da polícia de fronteira. Fomos para a nossa cabine aguardar.
O trem passou pelo último posto russo - Nausshki - e continuou até chegar à fronteira com a Mongólia. Já era noite alta e resolvi tomar banho. Foi quando o trem parou, em Such Baatar. Logo depois, uma policial simpática, mas de austero uniforme verde-oliva e quepe, entrou na nossa cabine. Os vagões dos 32 brasileiros eram os primeiros.
Meu marido apresentou os passaportes, mas ela queria me ver. Bateu na porta do banheiro, enrolei-me na toalha e apareci. Ela sorriu, falando em inglês, disse-me que eu era loira igual a foto do documento. Agradeceu e recolheu os passaportes, depois devolvidos.
Chegando à Mongólia
Foi uma parada de quatro horas para os vistos de entrada. Quando acontecem problemas de identificação, a parada pode resultar em mais de dezoito horas.
Felizmente, isto não aconteceu. Em solo mongol, quase mais marcante do que a mudança cultural, é o processo de fronteira. A polícia e a imigração russas fazem jus a imagem até hoje cultivadas no imaginário do turista. A rigidez do translado, com muitos controles e revistas, pode demorar muito. A gratificação posterior é o desembarque no país, que revela surpresas para quem carrega imagens medievais dessa ex-grande nação guerreira e conquistadora. O herói nacional ainda é Gengis Khan. Lá se descobre um país desenvolvido e amigável.
Em território Mongol
Depois dos trâmites de fronteira conseguimos ainda dormir. Pela manhã, as camareiras nos devolveram os passaportes. Pela janela da nossa cabine, começamos a visualizar os campos com cavalos, rebanhos e as "yurtas" - tendas altas, redondas com o teto cônico, onde moram os nômades. No inverno, elas são levadas ao sopé das montanhas, onde o inverno é um pouco mais ameno. Eram campos, de visão infinita, rodeados por montanhas, vegetação verde, pequenos lugarejos e rios. Uma beleza diferente da que estávamos acostumados.
Yurtas
A "Yurta" pode ter sido a primeira casa portátil da história. Quase metade dos habitantes da Mongólia ainda vive nessas grandes tendas, que já eram usadas pelos ancestrais há milhares de anos. Consistem em uma armação de longas ripas de madeira, amarradas com tiras de couro e cobertas com várias camadas de uma espécie de feltro, lã e peles de animais. Quase sempre brancas, o que as fazem destacar nos campos. Uma yurta tem tamanho suficiente para abrigar até 20 pessoas. É projetada para conservar o calor durante os rigorosos invernos e por isso não possuem janelas. Existe um buraco no centro do teto para deixar a fumaça sair e, também, ventilar o ambiente. Este mesmo esquema conhecemos nas cabanas de gelo, no Polo Norte. A porta é de madeira pintada, fica sempre do lado sul, para proteger os ocupantes dos ventos gelados do norte.
As yurtas e os nômades
Depois de desmontada, a yurta é transportada no dorso de animais de carga para o acampamento seguinte. Móveis e utensílios são poucos, já que também necessitam ser carregados. São dispostos sempre da mesma forma: no centro, o fogão, usado para cozinhar e aquecer o ambiente. As camas - e os berços de madeira - são montados dos dois lados da porta. O lado norte da yurta é ocupado por arcas e aparadores, decorados com motivos tradicionais. Deste lado, também, nas yurtas próximas das cidades, encontram-se o rádio e a televisão, meios de acesso a um mundo inteiramente novo.
Conclusão
Os mongóis, tradicionalmente conservadores, estão começando a aderir às tentações da moderna tecnologia. Ao lado de fora das yurtas, poderão ser encontrados motocicletas e pôneis. As tradições, porém, custam a desaparecer na Mongólia. Mesmo quando os nômades adotam a vida urbana, as casas que constroem têm a forma da yurta, conservando o teto em forma cônica.
Viajamos das proximidades do Lago Baikal à Ulan Bator - capital da
Mongólia - por 1.113 km. Foi um dia inteiro no trem. Ótimo para descansar um pouco, usufruir do mesmo e do convívio com os companheiros de viagem.