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Opinião

Caça ao javali (Parte IV)

Como controlar esta praga?

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Roberto Ferron
Por Engº Florestal Roberto M. Ferron – Consultor Florestal/Ambiental
Foto Roberto M. Ferron

O único controle do javali aqui no Brasil, e em outros países, é a caça ou a sua captura e posterior eliminação.

O Ibama autoriza o controle da população de javalis desde 2013, por meio de Instrução Normativa, permitindo o manejo em todo o território nacional. O abate de javalis é autorizado para reduzir sua população e os danos que causam. Entretanto, a venda e a criação de javalis são proibidas, assim como o transporte de animais vivos e a comercialização de seus produtos (carne).

Conversando com caçadores amadores e licenciados, ouvi diversos relatos:

1º) O caçador V.S. (Carazinho) disse que: “Se queremos qualquer informação dos órgãos licenciadores sobre o manejo do javali, como o IBAMA, nem aqui no RS e nem em Brasília conseguimos ser atendidos (seja no 051 ou 0800), esquece, porque ninguém atende. Se queremos fazer uma autorização, tem que entrar no site do IBAMA e fazer o cadastro, só que dá sempre incorreto. Parece que não querem que se cace os bichos. A burocracia é muito grande, as despesas são enormes (associação em clubes de tiro e caça, CAC, taxas, deslocamentos, acampamentos, alimentação, combustível, munição, cachorros)”.

2º) Os caçadores R.S. e I.H.S. (Arvorezinha) e F.L. (Anta Gorda) relataram que “é obrigatória a autorização do proprietário rural, por escrito e com firma reconhecida em cartório, o que tem custo, além de o proprietário ter que tirar tempo para fazer isso. Os proprietários imploram para a gente ir caçar, porque o bicho causa muito dano. Outra, para ir caçar em cada município tem que tirar uma autorização de caça e pagar uma guia de R$ 90,00. Além da tremenda burocracia, tem que tirar laudo veterinário para cada cachorro, que vale por 15 dias, e se paga até R$ 80,00. Não vivemos disso, é apenas um esporte ou passatempo, a gente faz porque gosta”.

3º) O caçador S.R.M. (Passo Fundo) disse que “para ser caçador, a pessoa tem que fazer teste psicológico e teste de tiro, e ter bons antecedentes, senão não consegue o registro. É muita burocracia e custo. Eu já parei de caçar os javalis”.

4º) O caçador N.P. (Passo Fundo) relatou que “para tirar o CAC é uns R$ 2.000,00. Não se pode transportar a carne, tem que deixar lá no local. O cachorro não pode maltratar o bicho, tem que usar focinheira. A lei, em vez de facilitar o caçador, pois o bicho é uma tremenda praga e bravo, faz tudo para nos dificultar. Desse jeito, não tem como! Daqui uns dias o javali vai chegar nas cidades, e onde tiver lixo vai ser um desastre. Se se sentirem ameaçados, vão atacar as pessoas. Se pegarem uma criança, eles a matam”.

Foi por essas e outras que houve, no mês passado, audiência pública na Comissão de Agricultura, Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento Rural da Câmara dos Deputados, com a participação de deputados federais e especialistas de diversos órgãos, para debaterem o impacto ambiental. O deputado federal do RS Alceu Moreira (MDB-RS), coordenador institucional da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), propôs mudanças urgentes na legislação. Em entrevista ao Compre Rural, Moreira destacou o PL 4253/2025, mostrando que é preciso retirar o controle sobre o javali das mãos do Ibama e descentralizar o manejo para estados e municípios, garantindo mais agilidade nas ações. Além disso, defendeu a bonificação de caçadores credenciados, transformando o combate à espécie em uma política pública eficiente, a fim de evitar uma crise sanitária que pode comprometer o agro brasileiro.

Estudos apontam que o Brasil precisará abater mais de um milhão de javalis em 2025 para reduzir os danos já em curso. Segundo o presidente da Associação Brasileira de Caçadores “Aqui Tem Javali”, Rafael Salerno, apenas em 2024 foram eliminados cerca de 500 mil animais, mas o número não foi suficiente para frear o avanço da população, que segue crescendo de forma descontrolada.

Esses animais causam prejuízos de até 40% em lavouras de milho e soja em algumas regiões, degradam nascentes, o solo e ameaçam espécies nativas. E o mais grave é o risco sanitário, pois podem transmitir peste suína clássica e febre aftosa, colocando em risco o status sanitário do Brasil como país livre da doença. Salerno defende que é um erro comparar o controle de javalis com a caça ilegal de animais da fauna nativa, como capivaras ou onças. “Graças à incompetência e complacência das autoridades brasileiras, tornou-se impossível extinguir esses animais. O esforço deve ser direcionado a reduzir ao máximo os danos, como já ocorre em outros países”.

Hoje, os javalis se tornaram uma verdadeira “bomba-relógio contra o agro brasileiro”, e as autoridades dão pouca importância à praga e não facilitam em nada sua caça ou controle.

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