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Expressão Plural

Tijolos no muro

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Gerson Egas Severo.jpeg
Por Gerson Egas Severo
Foto Arquivo pessoal

Eu só não digo que nossas crianças - as que têm acesso a equipamentos eletrônicos e à Internet - estão inteiramente entregues e mergulhadas em entretenimento tolo (games, canais de Youtube, TikTok), e nós não estamos fazendo nada, porque parece papo de velho que acha que existem tempos, épocas, inerentemente melhores e piores que outros, que outras; porque eu também devo ter tido, tive, entretenimento considerado tolo (bola o dia todo, HQs, guitarra elétrica) por algum adulto sabichão na minha infância/ pré-adolescência; e porque parece deitação de regra de quem acha que as suas coisas é que são legais, interessantes e criativas, e não são nunca “tolas”.

Qual é a medida da responsabilidade de pais e mães, e de professores? Qual é a natureza do lúdico? O que é o lúdico a cada momento histórico dado? Quais são os limites do “live them kids alone”, uma vez que “all in all, you are just another brick in the wall”? Os próprios conceitos de infância, juventude e adolescência – e, aliás, o de lúdico -, são históricos, situados e situáveis; mudam.

Filhos/as deveriam ser educados para o exercício de sua vida e de sua liberdade em comunidade, não é mesmo? Mães e pais, e professores/as, teriam de levar-nos até o ponto em que soltamos as rodinhas da bicicleta – com base nas diversas inteligências, meios-hábeis, independência, autonomia e sabedoria que, se tudo correu relativamente bem, nos ajudaram a desenvolver, a ter. Mas, no processo, como evitar os abusos e erros que estão sempre à espreita? O excesso de “nãos”? E mais: o maltrato, a exploração? Se de um lado é preciso ter firmeza, de outro é errado reprimir os desejos, a curiosidade e as iniciativas das crianças.

Contardo Calligaris observou que é muito difícil encontrarmos uma escolha infantil ou adolescente que não represente a realização de um ideal enunciado pelo mundo adulto. Para crianças e adolescentes, portanto, seria praticamente impossível escapar à interpretação que o olhar adulto lhes lança – como uma lança. Ou seja: trata-se de uma encrenca consideravelmente grande, e temos de lidar com ela todos os dias. Construção de pontes. Arquipélagos. Deng Ming-Dao sugere uma agenda mínima, ao mesmo tempo pragmática e filosoficamente elevada: ter em mente que muitos “nãos” arruínam uma criança; que se deve ensinar às crianças que nós somos sempre nós mesmos, e que ninguém vive a nossa vida por nós; que a experiência é o melhor professor, e que, mesmo nas piores circunstâncias, “uma boa educação é sempre um bem”.

Sopesando tudo isso, e noves fora, talvez nossas crianças estejam inteiramente entregues e mergulhadas em entretenimento tolo, quase o tempo inteiro de seus dias e noites. Não que nós também não estejamos.

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