21°C
Erechim,RS
Previsão completa
0°C
Erechim,RS
Previsão completa

Publicidade

Expressão Plural

Amor nos tempos de pressa

teste
Marina Oliveira
Por Marina Oliveira
Foto Arquivo pessoal

O amor tem tomado o meu tempo de um tempo pra cá. Às vezes, como questão que surge repentinamente e, repetidamente, em forma de interrogação. Parece até que a possibilidade da inexistência me persegue. É esse tipo de dúvida que gruda na gente, tipo pisar na m****; pode até sair, mas o cheiro fica. Dizem que dá sorte. Ou quando minha curiosidade infantil me leva ao desejo de conhecer a fundo o que é que é, e ultimamente o amor é que tem sido meu objeto de pesquisa. Essa “coisa”, que pode ser traduzida de diferentes formas e carrega significados distintos para cada um e, por isso, não há resposta, senão todas.

Há vezes em que o amor “só” me inunda, sem perguntas ou explicações, e me lembra que, pra mim, existe — e como. Sinceramente, tenho lutado diariamente contra o ideal romântico da coisa, que tentam nos fazer engolir a todo custo — especialmente nós, mulheres. Eu cuspo, às vezes.

É que o amor, pra mim, tem se manifestado de formas tão explícitas (tirem as crianças da sala), tal qual acho que deve ser. Por exemplo, os quero-queros na parada do ônibus por onde passo todas as manhãs, um protege o ninho e o outro choca os ovinhos, e ali eles se revezam. Isso é amor. Também os meus amigos que, todos os dias, enviam as melhores figurinhas de bom dia no nosso grupo — desde o galo servindo café até o Vegeta de calcinha. O puro suco do amor.

Lá em casa, o almoço feito mais tarde no sábado é amor com sabor de folga, porque significa que ficamos tomando mate juntos, conversando e lagarteando no sol da manhã. Sou tão amada que, ontem mesmo, meu pai me deu um café cheiroso que leva o nome da Mariáh, uma moça que conheci ainda quando criança e de quem, na época, já gostava muito. Na embalagem diz o seguinte: “nascemos na paixão de uma família pelo café, e nos fortalecemos no amor de um menino por um anjo”. Amor com aroma, fundinho de morango, açaí e saudade. 

Presumo que amor é, também, o que fica quando a presença física já não está, e que alívio é poder descansar a saudade no amor. 

Sei que posso soar repetitiva, mas estou rodeada de amor, é o que se repete pra mim. Veja só: é tanto amor que fica fácil me acostumar. E é aí que mora o perigo, no costume. Não me entenda mal, a gente tem mais é que tornar o amor em costume mesmo, o problema é quando isso dá lugar ao esquecimento, à ignorância. 

Deixar de contemplar a dinâmica dos quero-queros, afinal, ali estão todos os dias. Tornar o “bom dia” de todos os dias em ação automática, banal. Até mesmo abrir mão de apreciar a folga do sábado por passar a considerá-la um atraso. Tomar café com pressa…

Quando deixamos de prestar atenção no amor, é aí que ele se esvai, se entrega, ou melhor, nós o entregamos de bandeja à monotonia. Em tempos em que a atenção é disputada tal qual final de copa, encontrar o amor nos detalhes é de uma complexidade imensa. Curioso isso, a profundidade no que há de mais simples.

Afinal, dizem que é aí que o amor mora, né? Nas pequenas coisas. Penso que deve ser por isso que não cresci; com sorte, o amor também mora aqui.

Publicidade

Publicidade

Blog dos Colunistas

;