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Expressão Plural

Quem tem o melhor ar?

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Everton Ruchel
Por Everton Ruchel
Foto Arquivo pessoal

Dizem que mudar de ares faz bem. E talvez faça mesmo. Há algo de curativo no simples ato de respirar outro vento, ver outro horizonte, sentir outro clima. O corpo se renova, a mente se alivia, o olhar ganha novas cores. Mas é curioso: nem sempre é o lugar que precisa mudar. Às vezes, é o ar que a gente carrega dentro.

Porque o ar das pessoas também varia. Tem gente que chega e o ambiente clareia. Parece abrir as janelas do mundo, deixar o sol entrar, convidar o riso a ficar mais um pouco. São presenças que trazem um tipo de brisa que não se compra em litoral nenhum. Um vento leve, que empurra a vida pra frente.

Mas há outros que trazem uma espécie de frente fria pessoal. Entram e o clima muda, o ar pesa, o humor cai como se tivesse trovejado lá dentro. É gente que chega carregando nuvens, e, às vezes, nem percebe. Falam e o ar desanda. Reclamam e o ambiente se contamina. Nessas horas, o melhor que se pode fazer é abrir bem as janelas da alma e deixar o vento correr. Porque ar parado azeda o dia.

O melhor ar, quem sabe, não vem das montanhas nem das praias, embora ambos tenham seus encantos. O melhor ar é o que nasce dentro da gente, no espaço entre um pensamento e outro. É o ar que vem da calma, da sinceridade e da leveza de quem aprendeu a não carregar o mundo nas costas. É o ar de quem sabe rir do próprio tropeço e não faz drama do inevitável.

Há pessoas que vivem com o ar limpo, e não por terem sorte, mas porque aprenderam a ventilar a própria alma. São aquelas que não guardam mágoa por muito tempo, não acumulam poeira nas palavras e sabem quando é hora de abrir espaço para o novo soprar. Gente assim renova o ar dos outros, mesmo sem perceber.

E há também as que vivem em constante poluição emocional. Colecionando mágoas, queixas e velhos rancores como se fossem troféus. O problema é que, nesse ar viciado, ninguém respira bem.

O ar também está nas palavras. Há frases que vêm carregadas, com um peso invisível que derruba qualquer conversa. Mas há outras que entram como um sopro bom, leve e honesto. As palavras, quando bem escolhidas, oxigenam as relações. Já as ditas no calor do momento podem encher o ambiente de fumaça. Respirar exige pausa, e falar, mais ainda.

Às vezes o silêncio também é o melhor ar. Ele não sufoca nem exige espaço, apenas circula. Há silêncios que curam, que limpam o ar depois da tempestade. É nele que a gente encontra fôlego para continuar, sem precisar explicar tudo. O silêncio, quando é leve, é o vento que reorganiza o que as palavras bagunçaram.

Talvez, no fundo, “mudar de ares” seja menos sobre geografia e mais sobre disposição. Não é trocar de cidade, mas de sintonia. É abrir as janelas de si próprio, deixar entrar o vento das boas intenções e expulsar o mofo dos ressentimentos. Porque o ar, quando é bom, se espalha. E quando é leve, contagia.

O ar não é somente questão de altitude, mas também de atitude. Há quem viva no alto e respire pesado, e há quem, mesmo na bagunça, encontre um jeito de ventar por dentro. É desse tipo de ar que o mundo anda precisando: aquele que refresca e acalma tudo em meio à pressa.

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