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Saúde

Hidradenite Supurativa é mais do que um simples pelo encravado

Doença inflamatória crônica pode causar dor intensa, cicatrizes permanentes e grande impacto emocional

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Dra. Elisiane Magnabosco explica que o diagnóstico e o tratamento precoces são a chave para controla
Por Marcelo V. Chinazzo
Foto Marcelo V. Chinazzo

A Hidradenite Supurativa (HS) é uma doença de pele crônica e inflamatória, muitas vezes negligenciada, que afeta profundamente a qualidade de vida dos pacientes. Caracterizada por lesões dolorosas, secreção purulenta e cicatrizes permanentes, é frequentemente confundida com problemas mais simples, como pelos encravados ou furúnculos.

O que é Hidradenite Supurativa?

A Hidradenite Supurativa afeta principalmente as áreas de dobra do corpo, como axilas, virilhas, região das mamas e anogenital. Segundo a dermatologista Dra. Elisiane Magnabosco, a doença “geralmente inicia como pequenos nódulos” e, por atingir regiões com pelos, muitos confundem com pelo encravado. Esses nódulos podem regredir espontaneamente ou evoluir, inflamando e se rompendo sob a pele.

Com o agravamento, os nódulos formam abscessos semelhantes a furúnculos. Em casos mais avançados, as lesões se interligam por meio de túneis subcutâneos, drenando secreção purulenta com odor fétido. “Tem-se vários níveis e várias formas com que a doença se manifesta, desde as mais leves até as mais avançadas, inclusive deixando cicatrizes”, destaca a dermatologista.

Principais sinais de alerta

Um dos principais critérios para suspeita da doença é a recorrência. “Existe um critério, que é dois ou mais episódios de bolinhas, de abscessos nessas áreas em seis meses”, alerta Dra. Elisiane. Quando isso acontece, é fundamental buscar avaliação especializada.

Fatores de risco e causas envolvidas

A origem da Hidradenite ainda não é completamente compreendida, mas há fatores genéticos e ambientais importantes. “Aproximadamente 40% dos casos têm história familiar, então é um tanto forte essa genética”, aponta a médica. Além disso, obesidade e tabagismo são fortemente associados ao desenvolvimento da doença.

Hormônios também parecem ter influência, com maior prevalência em mulheres, especialmente no período pré-menstrual. Alterações no sistema imunológico e condições como diabetes tipo 2, síndrome metabólica, doença cardiovascular e síndrome dos ovários policísticos também estão relacionadas à HS.

Por muitos anos acreditou-se que a HS era uma doença das glândulas sudoríparas, mas estudos recentes apontam que ela tem origem no folículo piloso. “As linhas mais modernas de pesquisa citam o folículo piloso como o alvo. É ali que começa todo esse processo”, explica Dra. Elisiane.

Impactos físicos, emocionais e sociais

Além da dor e do desconforto físico, a HS traz impactos psicológicos e sociais significativos. “O impacto pessoal e social que a Hidradenite causa é altíssimo. Tem casos de suicídio, casos de tentativa de suicídio, de doenças mentais relacionadas em função disso”, revela a dermatologista.

Em casos graves, o paciente precisa conviver com secreções constantes, curativos, roupas especiais e restrições na vida sexual e profissional. “É extremamente desagradável. Os casos graves são realmente bem incapacitantes”, ressalta.

Diagnóstico frequentemente tardio

Muitas vezes, os pacientes recebem diagnósticos errados por anos. “O maior fator de confusão e que demora o diagnóstico é achar que é pelo encravado, que é um furúnculo normal”, afirma a médica. O problema é agravado quando o primeiro atendimento ocorre com profissionais que não estão familiarizados com a HS, como ginecologistas, urologistas, proctologistas ou clínicos gerais.

Em adolescentes, o diagnóstico pode demorar ainda mais por vergonha de relatar os sintomas. “Acho que esse é um alerta aos pacientes e aos pais: ficar sempre atento a dores e caroços nessas regiões para buscar tratamento porque pode ser sim Hidradenite”.

Lesões profundas e cicatrizes permanentes

Com o passar do tempo e sem tratamento adequado, as lesões deixam cicatrizes profundas e túneis subcutâneos difíceis de tratar. “Precisa às vezes de um procedimento cirúrgico muito extenso, tem que tirar toda essa pele porque ela não cicatriza mais”, explica Dra. Elisiane. Por isso, a intervenção precoce é fundamental para evitar complicações irreversíveis.

Existe cura?

A Hidradenite Supurativa não tem cura definitiva. “Não, a gente não pode falar que tem cura, tu vais ter controle e por vezes ela entra em remissão, mas ela pode acordar e é que aí vem o tratamento”, afirma a especialista. O controle depende de diversos fatores, incluindo adesão ao tratamento, mudança de hábitos e acompanhamento médico.

Mesmo após cirurgias extensas, a doença pode retornar se não houver controle dos fatores agravantes, como obesidade e tabagismo. “A parte mais fácil é tu dar remédio. Aí quando tu pede essa contrapartida do paciente, muitos não voltam”, lamenta a dermatologista.

Abordagens terapêuticas e tratamento

O tratamento varia de acordo com a gravidade da doença. Casos leves podem ser controlados com medidas como perda de peso, cessação do tabagismo, controle glicêmico e uso de roupas menos apertadas. A depilação definitiva também pode ajudar. “Como o folículo piloso é a base do problema, se eu tiro esse pelo eu vou trazer algum benefício”, explica.

Medicamentos tópicos, antibióticos sistêmicos e tratamentos hormonais são recursos frequentes em casos moderados. Em situações mais graves, pode ser necessária cirurgia para remoção das áreas afetadas.

Além disso, há terapias com imunobiológicos de última geração. “Hoje a gente tem dois tratamentos imuno-biológicos já liberados, que são drogas que atuam diretamente lá nas células de defesa, bloqueando interleucinas. Para a Hidradenite é o Adalimumabe e o Secuquinumabe”, destaca.

Esses medicamentos são de alto custo, mas podem ser fornecidos pela rede pública em casos indicados.

Diagnóstico precoce é fundamental

Por fim, a dermatologista reforça a importância da atenção aos sinais. “A primeira coisa é entender que não é normal ter inflamações nessas regiões, por mais que pareça normal pela questão da depilação”, orienta. Ao notar dor, caroços persistentes ou secreção em áreas como axilas e virilhas, o ideal é procurar um especialista.

“A gente tem que estar sempre com um certo equilíbrio. Percebendo que está ficando dolorido, que o problema não passa, tem que procurar por um especialista. E quanto mais cedo a gente consegue diagnosticar e tratar, vai ajudar muito”, conclui.

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