A democracia brasileira está em ataque, assim como todos os brasileiros. Os golpes vêm de dentro e de fora, dos flancos, e são dirigidos às canelas finas desta jovem estrutura, que recebe as pancadas de todos os lados. A opinião pública olha o desfecho de forma apática, está em frangalhos, confusa, às vezes delirante, e sofrendo constante manipulação via internet e redes sociais.
Aonde vamos parar? Em lugar nenhum, certamente, estamos caminhando para ampliar o caos, que já está sendo gestado, gradativamente, nas entranhas dos brasileiros. Tudo isso levará a ruptura de todos os pilares essenciais ao funcionamento da vida democrática, impugnará o desenvolvimento socioeconômico, e, principalmente, vai arruinar o convívio familiar, social e coletivo, como já está sendo visto em muitos casos.
Grupos, instituições, pessoas, utilizam a Internet para deturpar e desfigurar a realidade, em benefício próprio, pulverizando e ampliando o alcance das informações falsas sobre os mais variados assuntos, principalmente, políticos. E isso está funcionando, está dando certo, e os estragos já são incalculáveis nas mentes e corações das pessoas, em todos nós. É um jogo sujo, baixo, vil, ignóbil, e muito perigoso que não acrescenta nada de construtivo, muito pelo contrário, põe muita coisa a perder, para o ser humano, como a civilidade construída ao longo de décadas. O que não se vê é que instalado o obscurantismo ele será para todos, não importando o lado, se direita, centro ou esquerda, todos perdem muito.
Todo este aparato é meticulosamente pensado e deliberado e tem como funções envenenar e arruinar as nossas percepções. Por exemplo, estas enxurradas de informações falsas conseguiram substituir o debate político saudável, que tinha como foco os assuntos de interesse da comunidade, aquilo que é essencial para o bem-estar da população e o desenvolvimento social e econômico, pela figura do inimigo e as manifestações de ódio.
Trocou-se a discussão da esfera pública pela individual, mas não somente isso, nesta inversão se priorizou o lado obscuro do ser humano, inflando o ressentimento e o ódio nos indivíduos. Não há mais debate, contraponto, em pauta, agora, tudo se resume a raiva, desprezo e a um inimigo que precisa ser abatido de qualquer forma, mesmo que para isso seja necessário transgredir as leis, passar por cima do que for, sem escrúpulos e sem limites.
Esta análise não é minha, há muitos estudiosos se debruçando sobre estes temas, mas as boas informações não chegam até os ouvidos e olhos dos brasileiros, porque o nível de manipulação das redes sociais faz qualquer grande conspiração ficar no chinelo, parecendo brincadeira de criança. E, por estas e outras razões, que o jornalismo profissional, mesmo com as suas falhas e fragilidades, ainda é uma fonte mais segura e confiável para se obter informações.
A opinião pública (eu, tu, nós, na sociedade) está consumindo um produto que não tem nada de inofensivo, inodoro, isento, e que se mostra a cada dia mais venenoso com consequências devastadoras para toda coletividade. As informações falsas via Internet e redes sociais estão monopolizando os assuntos, destruindo os temas essenciais, reduzindo uma gama de questões fundamentais para o avanço da sociedade brasileira a um punhado de bílis, ódio, ressentimento, discórdias infundadas, enorme quantidade de informações descabidas, sem pé nem cabeça, para deliberadamente confundir e deturpar e colocar as pessoas umas contra as outras, deixa-las em transe e bitoladas.
Esta manipulação, com falsas informações, estabeleceu um novo modelo de conduta social e as pessoas estão comprando sem nenhuma reserva ou reflexão, trocando a análise dos fatos por ataques pessoais, não importa o assunto, não interessa o conteúdo, contraponto, argumentos, tudo termina em ofensas ao sujeito, à honra, entre os interlocutores.
Isso promove uma efetivo rompimento no tecido social, nas relações, implodindo tudo que até pouco tempo atrás era tido como essencial, educação, tolerância, respeito, direito ao contraditório, ao bom diálogo, instituições que demoraram gerações para se desenvolver estão sendo atacadas, vilipendiadas, desacreditadas, jogadas no lixo pela manipulação, em larga escala, das redes sociais.
É algo, simplesmente, inacreditável o que está acontecendo com as relações familiares, amizades, profissionais. E por quê? Por nada, repito, nada. É parar, respirar, refletir, e o resultado será nada. Toda esta maquinação não está conduzindo as pessoas nem a sociedade para algo melhor, país mais desenvolvido, produtivo, equilibrado, e pessoas mais felizes.
O que se vê são amizades de décadas sendo descartadas por palavras que não fazem sentido nenhum para ninguém, sem contexto, marcadas somente por ódio e intolerância, irreflexão. Esse fenômeno nas redes sociais não é por acaso, fortuito, natural, é uma ferramenta muito bem pensada e projetada para criar caos virtual e depois real.
Com a opinião pública, as pessoas desestruturadas, desinformadas, o Congresso está liberado para deitar e rolar, sambar o ano todo em cima dos cadáveres da população brasileira. Basta ver o que está em processo e votação.