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Opinião

Memórias de viagem

Viagem Transiberiana de Trem: Rússia – Sibéria – Mongólia – China – (8)

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Marlei Klein
Por Marlei Carmen Reginatto Klein
Foto Marlei Carmen Reginatto Klein

O metrô de Moscou é visita obrigatória por ser dos mais belos do mundo e com passagens muito baratas. Ele é uma das joias da cidade: sua iluminação, suas entradas de ar natural, esculturas em bronze, lustres de cristal, detalhes em ouro, escadas rolantes longas e íngremes e o vai e vem dos moscovitas. Suas ricas estações são museus subterrâneos que retratam a história da antiga e rica União Soviética. O metrô moscovita é por si só uma atração turística de primeira grandeza, dessas que não se pode perder. Embora, com certeza, é muito fácil se perder dentro dele. O culpado é o alfabeto e com nenhuma placa em inglês. Todos os caminhos estão muito bem sinalizados: mas não conseguimos lê-los. Por isso, sempre é interessante o acompanhamento de um guia.

Ferroviária de Moscou

Estação Yaroslavsky, a mais central de Moscou. Nela, teve início a nossa viagem transiberiana. O local, de muito estilo, parecia o hall de um aeroporto internacional. Muitos painéis eletrônicos e também indicações em inglês. Chamava muito a atenção os belos lustres de cristal da estação, a organização e a limpeza do local. O trem: o Grande Expresso Transiberiano nos aguardava. Eram 54 vagões, mais altos e compridos dos que dos trens comuns. Eram na cor dourada e com faixas vermelhas. Não estávamos preocupados, pois nossas malas já haviam ido direto para a nossa cabine. Domingo, pontualmente às 18 horas iniciou a nossa grande aventura: A Viagem Transiberiana.

Grande expresso transiberiano

A viagem percorre a estrada de ferro mais longa do mundo. Cruza a Rússia, a Sibéria, o Lago Baikal, a Mongólia, o Deserto de Gobi e chega à China. Eram pessoas do mundo todo. Diferentes línguas, diferentes hábitos. Muitos brasileiros divididos pelas três classes de viagem do trem. Na primeira, que era a nossa, 32 – todos casais – somente nós de gaúchos, um casal do Rio de Janeiro e os demais de São Paulo.  Ocupamos as suítes nos primeiros vagões – cada vagão com 5 suítes e o nosso era o primeiro. O trem percorre nove mil quilômetros, sempre próximo ao Oceano Pacífico.

A viagem dos sonhos

Apesar das distâncias, seria um erro considerar essa viagem um sinônimo de desconforto e privações. O expresso turístico oferece um bom conforto, com cabines privativas, para quem optou, vagões restaurantes, sala de aula, espaço para concertos, um piano-bar e atendimento médico. Nessa viagem, este atendimento era realizado por uma médica russa e muito competente, mas só falava russo. Na entrada próxima ao nosso vagão, o casal Elena e Nicolai nos esperava e nos conduziu à nossa suíte. Somente falavam russo. Usavam uniforme e ele gravata. Nos entendíamos por gestos, algumas palavras aprenderam e o restante procuravam no “google”. Mas a guia que acompanhou o grupo dos 32 brasileiros, durante toda a viagem, falava um ótimo português, pois havia estado no Brasil. Todos os vagões tinham um casal responsável para atendimento e coordenação. Sempre estavam próximos e cuidavam perfeitamente da limpeza. Uma comandante alemã coordenava toda a viagem e todo o trem. Muito severa e pontual.

A bordo

A nossa cabine possuía um relativo espaço: uma mesa junto a uma janela com pequenos sofás aos lados, uma boa cama que ficava elevada e baixava à noite. prateleiras nos lados e bem acima, espaço para guarda-roupa e até para colocar nossas grandes malas. A roupa de cama e as toalhas eram de bom tecido e alvíssimas. O banheiro continha uma pia com armários, um vaso sanitário e um espaço fechado para o banho – uma boa ducha com água quente. Produtos de higiene não faltavam. A Elena e o Nicolai eram muito simpáticos. Sempre à disposição e queriam nos agradar. O nosso grupo se divertiu muito com eles. Depois dos passeios, quando voltávamos para o trem, depois de um dia de visitas, Nicolai perguntava: “Un Tchá?” Eu respondia afirmativamente e lá vinha ele com um gostoso chá, bombons e biscoitos para a nossa cabine.

O expresso

Como estávamos nos primeiros vagões, tínhamos que abrir 49 portas para chegar ao restaurante: a entrada e a saída de cada vagão. Mesmo, com o trem em movimento, não era difícil, embora as portas fossem pesadas. Eram três restaurantes: 1. Restaurante Yenisey- nome de Rio da Sibéria: muito luxuoso com alvas toalhas, cadeiras de estilo em madeira e estofadas com couro branco, belos lustres e cortinas. 2. Restaurante Verde – um pouco mais simples. Altas cadeiras com estofo em veludo trabalhado verde. 3. Restaurante Volga – este é o Rio mais importante da Rússia. Muita madeira trabalhada nas cadeiras e nas mesas. Parte das cadeiras eram estofadas com veludo vermelho – este remetia ao tempo dos czares: cortinas amarelo-ouro, cristais, talheres de prata, canecas de estanho, louça branca com o nome gravado do restaurante. O café da manhã era padrão internacional. O jantar era servido em sequência: entrada, três pratos principais, sobremesa e café. Quando havia almoço, pois geralmente este era durante os passeios pelas cidades, o esquema era como o do jantar. Após o jantar íamos para o piano-bar. Todas as noites havia uma pianista russa tocando e acontecia muita dança, cantoria e aperitivos.

Nos trilhos do trem

Para fazer essa grande viagem, foram quase trinta dias contando as passagens por Moscou, São Petersburgo e Pequim. Foram dias subindo e descendo do trem, subindo e descendo escadas em enormes estações ferroviárias. O trem percorria as distâncias à noite e fazia pequenas paradas para buscar a manutenção em alimentos ou deixar as roupas usadas- toalhas – e suprir por outras limpas. Se a parada fosse cedo, era interessante descer também para entrar em contato com o lugar. Mas, estas eram muito breves.

Conclusão

O Grande Expresso Transiberiano pertence a uma companhia privada alemã, visto que a coordenadora geral da viagem era uma senhora alemã – muito organizada e cumpridora de horários. Ainda eram mais 64 comissários. As cabines com acesso à Internet. Foi-se o tempo em que viajar de avião era um evento glamouroso, para o qual convinha vestir a melhor roupa. Hoje, costuma ser simples e aturar aeroportos superlotados, ameaças de terrorismo e revistas inconvenientes. Por isso, para relembrar os dias em que viajar não era tão sofrido assim, as empresas especializadas decidiram investir em outra modalidade: o trem. Hoje, existem rotas em todos os continentes e até no Brasil.

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