Eu estava, nessa quarta-feira, preparando uma aula que daria à noite, e, ao mesmo tempo, escutava uma playlist (chamada “Cinefilia”) que eu criei e mantenho naquele streaming de música que começa com “s” – tentando escapar por umas horas à enxurrada de notícias sobre a situação de caos que se abateu sobre o Rio Grande do Sul e sobre minha cidade, Porto Alegre. O que eu escutava? Trilha sonora de filmes, de séries de tevê, de jogos eletrônicos, tudo tocando no “shuffle”.
A linhas tantas, acredite o caro leitor/a ou não, a palavra “flood” (cheia, enchente), destacou-se de uma belíssima melodia. Eu achei que minha atenção, dividida entre o trabalho, a música e as preocupações todas, havia me enganado – mas não. Apanhei o celular e verifiquei: estava tocando uma canção da trilha sonora do game “Horizon Forbidden West”. Trilhas sonoras de jogos eletrônicos são um dos modos pelos quais eu me aproximo desse universo, o dos games, tão apreciado pelo meu filho. E elas não perdem em nada para trilhas feitas para cinema e séries, podes crer: dê uma buscada lá nessa minha playlist e ouça por si próprio/a.
“Horizon Forbidden West” é um jogo recente, 2022, desenvolvido pela Guerrilla Games. Sua narrativa se passa em um mundo pós-apocalíptico em meio ao qual, numa América devastada por tempestades... bem, apocalípticas, e por máquinas controladas por inteligência artificial, aventura-se Aloy, a protagonista. Pura ficção e relação zero com a nossa realidade, como se vê. Um dos principais compositores da trilha, e autor da canção que quero destacar aqui, é um premiado canadense chamado Oleksa Lozowchuk. A canção se chama justamente “In the Flood”, “Na Enchente”, e é interpretada por Ariana Gillis. Sua letra (que, pelo que entendi, tem Aloy como sujeito lírico) original e em seguida a minha tradução:
Am I the one to hold (Eu sou aquela que irá sustentar)
This crown of ash and salt? (Essa coroa feita de sal e cinzas?)
Their kindness calls to me (Sua benevolência quer que seja assim)
I have to block it out (Mas eu preciso dizer que não)
My voice has grown so somber (Minha voz se ergue tão sombria)
These words don’t seem like mine (Que as palavras nem soam como minhas)
But the iron won’t subside (Mas o ferro – as máquinas - não irá retroceder)
No matter, no matter what I try (Não importa o que eu faça)
Am I raindrops in the flood? (Serei eu gotas de chuva na enchente?)
In this emptiness, in the storm (Neste vazio, nesta tempestade)
If I falter, if I fall (Se eu vacilar, se eu cair)
The wave inside my soul carries all I know (A onda em minha alma vai levar tudo o que eu sei)
Who can take my hand in the flood? (Quem irá segurar minha mão na enchente?)
A voice calls me forth (Uma voz, adiante, me chama)
Through darkness unknown (Vinda da escuridão desconhecida)
My heart with silence burns (Meu coração, com o silêncio, queima)
Through solemnness and bone (Através do que é solene, pelos ossos)
The edge beyond the shore (O limite além da costa)
This weight of wood and rot (O peso da madeira, da podridão)
I long to reach the other (Eu anseio por alcançar os outros)
To find, to find the path we lost (Para encontrar o caminho, o rumo que perdemos)
Am I raindrops in the flood? (Mas e se eu for gotas de chuva na enchente?)
In this emptiness, in the storm (Nesta vastidão vazia, nesta tormenta)
If I’m broken, if I’m torn (Se eu me vergar, me rasgar)
The waves inside my soul carries all I know (As ondas em minha alma vão carregar tudo o que eu sei)
Who can take my hand in the flood? (Quem irá segurar minha mão na enchente?)