“Sob o azul imóvel do céu, a paisagem também se modelou, ao longo dos séculos. Sua beleza feita de cores e cheiros, permite adivinhar, sob o ardor do sol e dos ventos, a tenacidade das espécies que se enraizaram ou que plantaram. Assim, são os troncos tortuosos das oliveiras, as flechas austeras dos ciprestes, a sombreada silhueta dos pinheiros, ou a floresta que guarda segredos em suas entranhas. ”
Reminiscências
Os camponeses do Norte da Itália abandonaram tudo em busca de uma vida melhor. Muitos chegaram ao Brasil. A dor do abandono dos familiares, do local de nascimento, a viagem e as condições de vida no novo destino não os fizeram esmorecer. O grau de coragem desses homens e mulheres dispostos a tudo enfrentar não se pode dimensionar. Buscavam seus sonhos. Era coragem e ao mesmo tempo desespero. Ao darem-se conta que nada tinham a perder, encontraram forças para rumar ao desconhecido: “O que será esta América? ”
Vinham desiludidos, pois plantavam e ceifavam o trigo, mas não comiam o pão branco. Cultivavam a videira, mas não bebiam o vinho. Criavam os animais, mas não comiam a carne. Era uma pátria onde não conseguiam viver do próprio trabalho.
Região da Lombardia
Os imigrantes que chegaram ao nosso Estado vieram principalmente da Região do Vêneto e da Lombardia. Esta é a mais populosa. São regiões próximas. No navio dos migrantes misturavam-se os dois dialetos e eles quase não se entendiam. A Lombardia tem como capital a bela cidade de Milão e outras importantes como: Cremona, Bellagio, Bérgamo, Bréscia, Monza, Sirmione. Alguns sobrenomes são nossos conhecidos como
Bérgamo, Bernardi, Carminatti, Gobbi, Sangalli, Farin, Finardi e Zanetti.
Cremona
Importante cidade da Lombardia e está próxima a Milão, a uns 75 quilômetros. É atravessada pelo Rio Pó, o mais importante e longo da Itália. É importante via fluvial e desde os tempos medievais é causa de prosperidade por onde passa. Antiga cidade, surgiu como colônia romana em 218 a.C. e desenvolveu uma cultura rica e cosmopolita sob o domínio espanhol, francês, austríaco e italiano. No século XVII, a cidade abrigava uma comunidade próspera de fabricantes de instrumentos. Os cremoneses, que aqui chegaram, possuíam a fama de falar muito rápido o seu dialeto. Há várias histórias sobre isso.
No centro histórico da cidade, está uma das mais belas catedrais da Itália e ao lado um lindo Batistério de forma hexagonal. É a Catedral de Santa Maria Assunta com um campanário de 112m, o mais alto da Europa, e é chamado de Torrione. Era o dia 6 de janeiro quando a visitamos. Na Praça da Catedral acontecia a Feira Dominical. Esse dia assinala o fim dos feriados de Natal e é o Dia da Befana, a bruxa boa que entrega doces para as crianças. As vitrines das lojas circundantes estavam belamente ornamentadas. Bonecas da Befana, doces, torrones e bombons. Chamava a atenção os doces em forma de violino, pois Cremona é a terra de Stradivari.
Festa do Torrone
Os torrones são motivo de festa. Esta é uma bela e gostosa tradição da cidade. Acontece anualmente, em setembro. O doce leva o nome de “torrone” por causa do Torrione da Catedral. É semelhante ao que chamamos de “mandolate”. Doce com amêndoas ou nozes, clara de ovos e mel. Os imigrantes cremoneses trouxeram a receita na bagagem. Mas, as nozes ou amêndoas foram substituídas por amendoins, mais baratos e fáceis de encontrar.
Antonio Stradivari
É o criador e fabricante do violino mais famoso do mundo. Ele nasceu em 1644. Criou o primeiro violino em 1666. O Museo Del Violino, criado em 2013, no centro de Cremona é uma homenagem ao famoso inventor. Hoje, existem uns 650 instrumentos no mundo e são extremamente valorizados. Em leilão, chegam a ser vendidos por milhões de dólares.
Violino Stradivarius
A criação de Antonio acelerou a transição do violino das salas de música de Câmara, do período barroco, para os salões de concertos da época clássica. Ele projetou seus instrumentos, feitos a mão, um pouco maiores do que os dos contemporâneos. Criou um arqueamento mais acentuado do tampo e do fundo e modificou a espessura dos mesmos.
O segredo desses violinos
Os estudiosos acreditam que os cremoneses impermeavam a madeira com sais de cobre para evitar a infestação de carunchos e essa técnica a enrijecia e melhorava sua ressonância. Também acharam que eles defumavam a madeira, que além de matar insetos, reduzia a umidade. Assim, conseguiam um timbre superior nos violinos instrumentos. Estes são tocados há centenas de anos. A voz inigualável dos STRADIVARIUS e sua importância histórica bastam para valer a pena preservá-los. Ninguém jamais reproduziu o belo som de um STRADIVARIUS.
Conclusão
Os imigrantes italianos, embora muitos tenham retornado ao seu país, tendo feito fortuna ou não, grande número deles aqui permaneceu. Aos domingos e feriados reencontravam sua identidade. Vestiam suas roupas mais bonitas e as tradições ressurgiam. As festas religiosas, celebradas o mais suntuosamente possível, lhes permitiam esquecer a dureza da vida cotidiana e também foram responsáveis de impregnar a paisagem social e cultural onde viviam.