A Irlanda é uma ilha dividida como República da Irlanda e Irlanda do Norte, com extensão de 84.421 Km2, sendo que 5/6 do território pertencem à República da Irlanda. Com a separação das Irlandas, em 1921, ocorreram anos de con­flitos religiosos, políticos e econômicos. A Irlanda do Norte ocupa seu pequeno território no nordeste da ilha, mais próxima ao Reino Unido. Até hoje as duas Irlandas não são muito amigas, mas vivem em paz.

A paz foi alcançada em 1998 após 30 anos de violência e confrontos quase diários entre grupos dissidentes e a polícia. Hoje, a República da Irlanda pertence à União Europeia e a capital é a linda cidade de Dublin; já a Irlanda do Norte pertence ao Reino Unido e tem como chefe de estado a Rainha Elisabeth II, sua capital é Belfast. Lembrando que ao Reino Unido Britânico pertencem a Inglaterra, a Escócia, o País de Gales e a Irlanda do Norte.

A Irlanda do Norte é comandada por um Primeiro Ministro e por um Presidente. A maior parte de sua população é católica. As fronteiras, antes do Brexit, eram livres. Passava-se de uma para outra sem notar onde iniciava uma ou terminava outra. Temem que, com a divisão, consequência do Brexit, possa voltar a violência entre as duas Irlandas, pois muitos da Irlanda do Norte trabalham na República da Irlanda e até é prejudicial ao turismo, eis que agora é necessário visto para passar de uma a outra.

Visitando as Irlandas, constatei como na Irlanda do Norte a população está dividida. Em recente plebiscito 56% da população gostaria de ver as Irlandas unidas. Agora com o Brexit, que é a separação dos britânicos do restante da Europa, os ânimos estão mais acirrados. Visualizei muros e paredes com pinturas e frases até chocantes como: “Guerra Agora”, “Não Queremos o Brexit”, “União para o Con­flito” e outras mais. Também vi muitas vezes a palavra PAZ. Em Belfast, muitos comitês angariando assinaturas para buscar uma milícia que esteja em prontidão, recrutamento de dissidentes.

Quando o primeiro-ministro David Cameron resolveu colocar o tema Brexit em votação popular, ele parecia estar convicto de que haveria uma votação maciça pela permanência na União Europeia. Em Londres consentiram. Mas, ele não contava com a população conservadora do interior, cuja preocupação maior era com a entrada de estrangeiros no país e com o protecionismo agrícola da União Europeia. Temiam pela sua economia. Venceu o Brexit e não conseguiram trilhar o caminho de volta. Boa parte das pessoas que votaram pela saída estão arrependidas, pois perceberam que não poderiam mais circular e trabalhar livremente em qualquer um dos 27 países da Comunidade. Outra pesquisa revelou que 56% dos escoceses se manifestaram pela separação do Reino Unido, porque foi a Escócia que mais se opôs à ruptura. A primeira-ministra Nicola Sturgeon disse que em breve seu país estará de volta à Europa. Realizará um novo plebiscito sobre a separação do Reino Unido. Realmente, agora tudo fica mais complicado. Com parentes na Escócia, bastava apresentar o passaporte com cidadania europeia para entrar, agora necessita de visto. O intercâmbio de estudantes brasileiros também ficou mais difícil.

Como já referi, a situação fica bem complicada entre as Irlandas, pois voltam a ser realizados controles aduaneiros esquecidos durante décadas. Mas, Dublin sempre teve como principal patrimônio o seu povo. A Trinity College, universidade mais antiga da Irlanda, tem sob sua guarda o livro de Kells. É um manuscrito, um objeto de arte do início da Idade Média realizado pelos monges do Mosteiro de Kells, que foi considerado “não o trabalho de homens, mas de anjos”. Dublin com sua cerveja Guiness é um dos maiores polos cervejeiros da Europa.

Já a Irlanda do Norte é uma obra-prima da natureza. As paisagens são a principal atração e William Thackeray escreveu: “Quando o mundo ganhou forma e foi modelado a partir do caos disforme esse deve ter sido o pedaço que sobrou - um vestígio do caos”