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Opinião

Depois de uma noite sem dormir

Tem dinheiro no país, mas é preciso definir o que é prioridade: se a vida das pessoas ou os juros da dívida pública. Qual é a mentira mais bem contada no Brasil, que nunca acaba, nunca tem fim, e é sempre renovada e reeditada ao longo de décadas: que o Brasil não tem dinheiro

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Qual é a prioridade: a dívida ou a vida das pessoas?
Por Ígor Dalla Rosa Müller
Foto Divulgação

Qual é a mentira mais bem contada no Brasil, que nunca acaba, nunca tem fim, e é sempre renovada e reeditada ao longo de décadas: que o Brasil não tem dinheiro. Essa é a maior mentira, já que tem muito dinheiro, absurdamente muito, mas não está à serviço do país como um todo, nem das pessoas de modo geral e dos municípios brasileiros. Isso porque da hora que acordamos até ir para o trabalho se está pagando muitos impostos na comida, nas roupas, calçados, eletrodomésticos, tudo que é possível ver e tocar, tudo que é útil e necessário à vida. Essa mentira se sustenta porque vem de balde, enquanto o seu antídoto é administrado em gotas: os jornais regionais.     

É claro que essa informação - a mentira mais bem contada no Brasil, que também sustenta uma política lesa-pátria - não sai por aí sozinha entrando na cabeça das pessoas. Ela precisa ser construída, gestada, alimentada, mimada e só depois divulgada, repetidas vezes, exaustivamente, ao longo de anos, dia após dia, até que entre sorrateiramente nas mentes e corações, e lá habite como um verme que se alimenta das entranhas até acabar com o seu hospedeiro.  

E, aqui entram os grandes veículos de comunicação, onde a lavagem cerebral é mais intensa e atinge milhões de pessoas em canal aberto, com seus telejornais, repetindo a mesma nota há anos e anos: que tem déficit; é preciso ter teto de gastos; que a Previdência vai quebrar o país; comparando as contas do país como as da dona de casa, o que é completamente descabido; enfim, que não tem dinheiro pra nada, e a constatação é óbvia: cada um por si.

O problema que isso não é assim que funciona na prática, porque mais de um trilhão de reais foram consumidos em 2019 com a dívida pública brasileira. Isto é, dinheiro tem, e muito. Qual é a prioridade: a dívida ou a vida das pessoas? Eu não tenho dúvidas, mas sucessivos governos preferem a dívida em detrimento da vida.     

Só para deixar claro, os veículos de imprensa regionais, do qual faço parte, tentam descontruir algumas informações que vêm em forma de nuvem, enxurrada, tormenta, como nuvem de gafanhotos ou de vespas entrando porta adentro, mas no fim de contas, a desconstrução atinge somente os atentos, os olhares treinados, as mentes inquietas, os incomodados, enquanto a grande onda é deglutida goela abaixo pela maioria sem reflexão ou o mínimo de dúvida.

O jornalismo regional é propositivo – e aqui não estou só defendendo o meu peixe -, mas essa é a realidade, basta pegar um jornal e ler e tirar as próprias conclusões. O jornalismo aqui é 90% identificado com a comunidade, com as demandas regionais, com os problemas reais das pessoas, porque é no município que a vida acontece. Os 10% restantes ou um pouco mais, fazem parte daquilo que realmente é difícil gerir na construção das informações ante a realidade. E esse número é somente divagação de minha parte, fruto da intuição.

Existem acertos e erros neste processo e muito a melhorar, mas o que não pode ser, não deveria pelo menos, é chamar os jornais comunitários (regionais) de golpistas, tendenciosos, porque não é assim. Esse rótulo serve muito bem em outras esferas de comunicação, mas não aqui.

A escrita dos impressos regionais (que depois alimentam sites e etecetera e tal) é muito mais – quase na sua integralidade – positiva e propositiva, do que a Grande Mídia, porque se não fosse assim, o boicote da comunidade e de empresários seria efetivo e direto, porque não tem como fugir dessa relação. É semelhante ao cidadão e ao prefeito, ambos sabem aonde tem que ir e o que fazer, e se não fizerem haverá problemas.

Mas para isso é preciso ler os tabloides que ainda sobraram, porque estão entrando em extinção, esta forma de fazer comunicação, como o Jornal Bom Dia, que acorda cedo e vai dormir tarde, sem folga para imprimir a informação, a vida, a história de uma comunidade. E quando este último sopro se esvair, quando está fábrica de significados da realidade sucumbir e deixar de traduzir o amálgama da vida em palavras, períodos, textos, se voltará a viver uma vida ainda mais distante, que por fim não tem identidade porque deixou de significar, de produzir sentido. É o que ocorre hoje, a informação genérica prevalece – não tem dinheiro e deu, fica por isso – apesar de todos os impostos que se pagam. A visão da realidade fica distante, impalpável, algo de que não se faz parte, a informação genérica desmobiliza as pessoas, enquanto a comunicação regional aglutina e dá a condição de criticar e transformar o meio em que se vive.    

Depois de uma noite sem dormir, eis a coluna aqui sai como uma tosse seca de uma só vez, enquanto expulsava a última força da preguiça instalada neste corpo.

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