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Expressão Plural

Diálogos (II): o futuro da Terra

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Gerson Egas Severo.jpeg
Por Gerson Egas Severo
Foto Arquivo pessoal

Prosseguindo com o exercício de exploração a que nos propusemos na coluna anterior, o de descobrir como a Inteligência Artificial construiria diálogos inusitados - Hipácia de Alexandria, Carl Sagan e o Sr. Spock, de Jornada nas Estrelas - , desta vez pedimos a "ela" que criasse uma troca de ideias entre duas cosmovisões/cosmopercepções antagônicas: Immanuel Kant e Davi Kopenawa Yanomsmi. O tema é o mesmo: o futuro da Terra.

 

"Kant e Kopenawa encontram-se em um espaço imaginário, onde ideias transcendem o tempo e o lugar. A conversa gira em torno das responsabilidades humanas em relação ao futuro do planeta.

Kant: Saúdo-o, senhor Kopenawa. Sou Immanuel Kant, um pensador da razão e da moralidade universal. Fico curioso sobre sua visão a respeito da Terra e seu futuro, dado o profundo vínculo espiritual de seu povo com a natureza.

Kopenawa: Agradeço suas palavras, Kant. Sou David Kopenawa, do povo Yanomami. Para nós, a Terra não é apenas um lugar; ela é viva, como uma mãe. O que a humanidade faz com as florestas, rios e seres vivos afeta não apenas o presente, mas também o equilíbrio do cosmos.

Kant: Intrigante. Em minha filosofia, defendo o imperativo categórico: devemos agir de modo que nossas ações possam ser universalizadas. Destruir a Terra ou explorar seus recursos sem consideração seria, portanto, irracional e imoral. Mas vejo que sua abordagem vai além da moral racional.

Kopenawa: Sim, nossa visão não separa o humano do mundo espiritual e natural. Quando os brancos derrubam as árvores, envenenam os rios e matam os animais, estão ferindo o espírito da Terra, que chamamos de xapiri. E quando esses espíritos ficam enfraquecidos, a Terra adoece, e todos nós sofremos as consequências.

Kant: Isso ressoa com minha ideia de que a humanidade tem um dever para com o todo. Não apenas um dever ético para com os outros humanos, mas também para com a natureza, como condição de nossa própria existência. Porém, sua conexão espiritual com a Terra sugere um nível de responsabilidade que vai além do que minha filosofia propôs.

Kopenawa: A responsabilidade vem do entendimento de que não somos donos da Terra. Somos seus guardiões. Mas os brancos, com sua ganância e suas máquinas, acreditam que podem controlar tudo. Eles esquecem que, se destruírem a Terra, destruirão a si mesmos.

Kant: Concordo que a ganância e a exploração desmedida são expressões de uma razão mal aplicada, que transforma os fins em meios. Porém, pergunto-me: como podemos inspirar os povos do mundo a reconhecer essa interconexão e agir em benefício de gerações futuras?

Kopenawa: É preciso ouvir os espíritos da floresta e as palavras dos antigos. É preciso parar de pensar apenas em crescimento e lucro. Os jovens têm de entender que a Terra é sagrada. Talvez a razão que você defende possa se aliar ao nosso conhecimento ancestral para criar uma nova forma de pensar.

Kant: Uma aliança, sim. Uma síntese entre razão universal e sabedoria ancestral. Talvez seja o caminho para evitar a catástrofe. Afinal, o que é o futuro da Terra senão o reflexo das escolhas que fazemos agora?

Kopenawa: Exatamente. E se não mudarmos, os xapiri irão embora, e o céu pode cair sobre todos nós. Não é apenas o futuro da Terra que está em jogo, mas também o destino de nossa própria existência.

Kant: Que essas palavras sirvam como um chamado à humanidade. A Terra é um lar compartilhado, e devemos tratá-la com a reverência que ela merece.

Kant e Kopenawa despedem-se, conscientes de que a verdadeira mudança depende do despertar coletivo da humanidade."

Na próxima semana, traremos um terceiro diálogo; e, então, uma reflexão sobre Inteligência Artificial.

 

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