Neste mês de outubro (12), foi comemorado o Dia do Agrônomo. Em matérias especiais o Jornal Bom Dia publica cases de profissionais que utilizam métodos alternativos no manejo de culturas
O Sítio-Escola Mukondo e suas práticas sustentáveis
Flávia Comiran e Jean Christian Boukounga adotam métodos agroecológicos para promover a saúde do solo e das plantas
Em um cenário onde a agricultura convencional recorre fortemente aos insumos químicos, o casal Flávia Comiran e Jean Christian Boukounga, proprietários do Sítio-Escola Mukondo, desafia o modelo predominante com práticas de manejo alternativo que visam não apenas o controle eficiente de pragas e doenças, mas também a promoção da saúde do solo e do ecossistema como um todo. Localizado no interior de Áurea, Rio Grande do Sul, o sítio, que opera há quase dez anos com base nos princípios da agroecologia, produz hortaliças, legumes, frutas e grãos.
Urina de vaca e biofertilizantes
Entre os insumos alternativos que Flávia e Cristian utilizam está a urina de vaca, um recurso natural e acessível que serve tanto como repelente de insetos quanto como estimulante de crescimento para as plantas. A urina é armazenada por dois a três dias antes de ser aplicada, momento em que adquire propriedades de proteção e fortalecimento para as culturas, que se beneficiam da composição bioquímica. Além disso, o casal também prepara e aplica o “Supermagro”, um biofertilizante composto por materiais orgânicos, minerais, esterco e água que nutre as plantas de maneira sustentável, favorecendo a estrutura e a saúde do solo.
“O uso de adubos orgânicos compostados faz parte do nosso manejo, e a certificação orgânica que temos, com o apoio da CAPA (Centro de Apoio e Promoção da Agroecologia), é um reconhecimento de nossas práticas”, explica Flávia.
Homeopatia e Microrganismos no controle de pragas
Outras formas de cuidado com o solo que o casal utiliza também é o uso de homeopatia para o fortalecimento das plantas. Flávia e Cristian acreditam que, assim como as pessoas, as plantas respondem à homeopatia de forma positiva. Através de aplicações homeopáticas, eles “informam” às plantas como reagir a pragas e doenças, fortalecendo sua resistência sem o uso de substâncias químicas agressivas.
Outra técnica inovadora que eles adotaram é a introdução de microrganismos eficientes (EM), uma prática de origem japonesa que consiste em capturar microrganismos da mata nativa e transferi-los para a lavoura. Esses microrganismos, ao serem introduzidos em um ambiente controlado e saudável, promovem o equilíbrio do ecossistema local, permitindo que as culturas se desenvolvam de maneira positiva. “É necessário preparar bem o ambiente para que esses microrganismos sobrevivam e prosperem no solo. É preciso palha, sombra, condições adequadas para eles se adaptarem e trazerem os benefícios que esperamos”, salienta Flávia.
SPDH: Colocando a planta no centro do sistema agrícola
No manejo de Flávia e Cristian, o Sistema de Plantio Direto de Hortaliças (SPDH) é outra prática central. Inspirado nos trabalhos da Epagri, em Santa Catarina, o SPDH coloca a planta como o centro do ambiente agrícola e incentiva o uso de práticas que priorizem o conforto da planta. O solo sempre coberto e a rotação de culturas são práticas que visam a manutenção de uma temperatura amena e a preservação dos nutrientes, fundamentais para o desenvolvimento das plantas.
“Esse sistema nos permite evitar que o solo fique exposto e pode chegar temperatura de 50°C, no verão, e prejudicar o desenvolvimento das plantas”, explica Flávia. A técnica prevê a utilização de plantas que promovem a fertilização e trazem vida ao solo, ajudando a criar um ambiente equilibrado onde pragas e doenças têm menos chance de prosperar.
“Trabalhamos com diversas culturas, incluindo grãos e hortaliças, mas todos os cultivos seguem princípios gerais da agroecologia. Esses princípios incluem o cuidado com o solo, uma ideia defendida por Ana Primavesi, uma importante estudiosa da agroecologia. Ela enfatiza que um solo saudável resulta em plantas resistentes. Para manter a saúde do solo, é fundamental mantê-lo coberto, realizar rotações de culturas e utilizar plantas de adubação verde que reciclam nutrientes”, acrescenta Flávia.
Ela explica que a biodiversidade também é essencial; evitar monoculturas permite que as plantas se beneficiem mutuamente. Por exemplo, quando tomate e a couve são plantados próximos, o tomate pode repelir as lagartas que atacam a couve. Assim, entender essas relações é fundamental para o cultivo.
Agroecologia e certificação
Flávia e Cristian integram a Rede Ecovida de Agroecologia, que realiza a certificação participativa de orgânicos. Esta certificação é uma garantia do comprometimento com métodos que atendam aos critérios de sustentabilidade e saúde do solo e do ambiente. O casal também participa da Cooperativa Nossa Terra, que conecta pequenos agricultores a agroindústrias, promovendo a comercialização de produtos como tomate orgânico para molhos e extratos, gerando renda e incentivando o crescimento do mercado de orgânicos.
O casal ressalta ainda a importância de monitorar constantemente o desenvolvimento das plantas e as condições climáticas. Em vez de seguir um calendário rígido de aplicação de adubos, eles preferem observar o comportamento das culturas, ajustando o manejo conforme as necessidades de cada planta e as variações climáticas.
Esses meios se baseiam em observação, adaptação e em uma visão holística do sistema agrícola, mostrando que é possível produzir de forma favorável para o solo, para as plantas e para as comunidades que dependem delas. No Sítio-Escola Mukondo, Flávia e Cristian demonstram que a agricultura pode, sim, ser uma força transformadora e positiva, focada na preservação e cria um futuro mais sustentável.
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Agricultura orgânica: técnicas agroecológicas voltadas para o cultivo de pitaias e árvores frutíferas
O casal, Magda Pagnoncelli e Delézio Kaminski, como referência no uso de alternativas de plantio que não são prejudiciais ao meio ambiente
Na zona rural de Três Arroios, na região do Alto Uruguai, Magda Pagnoncelli e Delézio Kaminski gerenciam uma propriedade certificada de cultivo orgânico, com foco na produção de frutas como pitaias, laranjas, bergamotas, maçãs, abacates, peras e figos, tudo sem defensivos químicos.
Cultivo consorciado de pitaias e citros
Delézio Kaminski inovou ao plantar pitaias entre pomares de citros. Essa técnica resultou em frutos mais produtivos e visualmente atrativos, com exemplares de até 1,1 kg colhidos entre as bergamotas. Magda Pagnoncelli salienta a melhoria no sabor e na aparência das frutas.
Manejo sustentável e adubação orgânica
Com o suporte do engenheiro agrônomo Fredy Magrini, do Cecafes, o casal utiliza adubos orgânicos, compostagem e resíduos vegetais para enriquecer o solo. Insumos como adubo de peru e restos de grama também são aplicados, contribuindo para a fertilidade e resistência das plantas.
Barreiras verdes para proteção ambiental
Com várias lavouras convencionais nas proximidades, que utilizam defensivos químicos, Magda e Delézio optaram por plantar barreiras naturais ao redor dos pomares. As barreiras têm o objetivo de bloquear poeira e partículas de defensivos que possam vir das propriedades vizinhas, garantindo a segurança das culturas orgânicas. Essa medida evidencia a preocupação do casal com a saúde ambiental e a qualidade de seus produtos.
Adaptação ao clima e resiliência
As tentativas de cultivar diferentes plantas como a Moringa oleífera e a Gliricidia sepium, consideradas tutores vivos das pitaias, ou seja, que possuem propriedades benéficas para o cultivo da fruta, o casal percebeu os desafios que o clima frio e as geadas da região impõem. A moringa, cultivada no norte do Brasil por suas propriedades medicinais, não resistiu às geadas frequentes. Por isso, eles decidiram investir na diversificação das espécies locais, optando pelo plantio de pitaias e outras frutíferas adaptadas ao clima.
Modelo de sustentabilidade
Com mais de três anos de certificação orgânica, Magda e Delézio demonstram que é possível produzir com qualidade sem agredir o meio ambiente. Sua abordagem inovadora combina produtividade e respeito à natureza, inspirando outros agricultores a adotarem práticas agroecológicas.