Um convite para conhecer a história de Erechim. É assim que o historiador Enori Chiaparini avalia o projeto de revitalização do Viaduto Rubem Berta, que já apresenta traços finalizados, como é o caso do espaço de circulação dos pedestres, que por meio de imagens, conta a trajetória do município centenário.
A obra em 3D, que possui figuras hiper-realista e com alguns traços de perspectivas anamórficas, foi realizada pelos artistas plásticos erechinenses, Marcos Provin, Vanderlei Provin e Eduardo de Oliveira. "Essa técnica dá a sensação que a figura está saindo da parede e essa é nossa intenção, dar vida aos objetos e símbolos que marcaram a história de Erechim", contou Marcos em entrevista ao Jornal Bom Dia.
Para os artistas, que nasceram na Capital da Amizade, participar desse projeto está sendo algo singular. "É muito gratificante porque estamos dividindo nosso trabalho com a população, por meio desse conceito que estamos trazendo de galeria a céu aberto, bem como, por ser um marco do município", pontuou Marcos, citando, ainda, que a proposta é uma novidade na região do Estado. "Uma galeria de arte a céu aberto não tem aqui no Alto Uruguai e o local escolhido foi excelente, pois está ao lado terminal de ônibus urbano", completou.
Apesar da sensação singular de que despertou nos artistas, a construção do projeto contou com a colaboração das pessoas. "Nós estamos tendo um retorno muito significante, todos que passam emitem suas opiniões, apontando o que poderia ser melhorado e até sugeriram fotos pessoais que também são importantes para contar a história do município e essas imagens foram inseridas na obra", destacou Marcos.
Assim, os sentidos do viaduto foram divididos entre a história do passado, que conta da colonização até a década de 1960 (lado esquerdo no sentido centro-bairro) e a história do presente (lado direito).
A escolha das imagens foi feita pelos artistas. "Nós fomos ao Arquivo Histórico Municipal para fazer uma busca do que poderia ser representado, a ideia era trazer materiais desde o início da colonização, para que as pessoas possam ter noção de que Erechim não surgiu do nada. Então a ideia é contemplar todos os momentos históricos, quando começou a surgir os povoados e mostrar a evolução deles, com a expansão do comércio, da indústria, o setor de serviços, agricultura e instituições responsáveis pelo desenvolvimento municipal, por exemplo a Educação", enfatizou Marcos.
Mesmo que ainda não tenha sido finalizada, a obra já sofreu episódios de pichação. "Nós ficamos um pouco magoados porque não é algo particular ou para o prefeito, foi feita para a população inteira, ou seja, da mesma forma que é minha, sua e de todos nós, ninguém teria o direito de vir estragar", relatou à reportagem. Após a divulgação dos fatos, diversas pessoas estão solicitando a aplicação de verniz antipichação.
O projeto ainda reserva uma área para a produção de expressões artísticas da população, como o grafitti. "Justamente para sair dessa questão da pichação e ir para a dimensão artística, até mesmo com possibilidades de ensinarmos ou trazer outras pessoas para ensinar novas técnicas e sem precisar depredar nada" concluiu Marcos.
A previsão de entrega de todas as áreas do viaduto é para agosto.
"Uma forma sublime de reverenciar a história"
Para o historiador Chiaparini, a iniciativa promove um convite carinhoso para o conhecimento da história local. "Essa ação é primordial para entendermos que o passado está sempre presente. Aquilo que fazemos hoje também é fruto de um legado que herdamos de gerações passadas. Assim, podemos aperfeiçoar esses traços herdados, mas para isso é essencial que conhecermos o que nos antecedeu", argumentou em entrevista ao Bom Dia.
Sobretudo, a ação é um ato de cidadania. "Colocar publicamente a história a disposição de todos é um ato grandioso de cidadania e civismo, uma maneira carinhosa para que possamos perceber que nossa história não é perfeita, mas temos que avaliar e aperfeiçoá-la, principalmente agora que completou os 100 anos, é preciso saudar e promover reflexões para ver o que foi acertado e o que precisamos melhorar. Considerando que o povo que valoriza sua história encontra respostas para o presente e o futuro, essa ação nos possibilita aprender de forma lúdica, brincando, passeando e contemplando", concluiu Chiaparini.