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Problema à vista e sem solução

Prédios e construções abandonadas trazem prejuízo e perigo para população

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Por Ígor Dalla Rosa Müller
Foto Ígor Dalla Rosa Müller

Insegurança, prejuízos e perigo para a população. É assim que podemos definir a rotina de quem mora ao lado de prédios inacabados, que tiveram as suas obras interrompidas ou abandonadas. Com tudo parado, as estruturas acabam virando morada de ratos, mosquitos da dengue, moradores de rua e jovens que usam esses locais para se drogar e ponto de partida para furtos na vizinhança. Essa é a realidade de muitas edificações de Erechim (RS) que vem prejudicando a vida de muitas famílias diariamente.

Prédio na rua Silveira Martins

O prédio abandonado na rua Silveira Martins com a Marechal Floriano só tem trazido prejuízos e problemas para a família Rigoni Dalmaso. A casa ao lado do prédio tem mais de 60 anos e é de propriedade do alfaiate Luis Rigoni de 93 anos, que apesar da idade avançada ainda trabalha e tem uma vida normal. A rotina da família começou a mudar há um ano e quatro meses quando a residência do seu Luis começou a ser invadida.  

Segundo o genro Adilson Dalmaso, aposentado, há um ano e quatro meses teve que deixar a sua vida em Santa Catarina para vir morar com o sogro em Erechim. Ele enfatiza que não é para cuidar do sogro, que tem uma vida normal aos 93 anos, mas pela preocupação com a sucessão de assaltos e a sua segurança. “Estou aqui porque os ladrões começaram entrar na casa de várias formas. A última vez foi pelo telhado. Acredito que isso se dá em função do prédio abandonado”, explica. O clima é de insegurança. “A gente mudou toda nossa vida em função dessa situação”, destaca.  

Adilson observa que mesmo depois de reforçar as janelas com grades a casa foi invadida. “Aí eles entraram pelo telhado, foram quatro vezes na casa e três no galpão, que fica nos fundos. No total invadiram sete vezes a casa em cinco meses”, ressalta.    

Indignada com tudo que vem acontecendo, a esposa Cintia Rigoni Dalmaso, filha do seu Luis, destaca que não teve opção devido à gravidade e foi obrigada pela situação a vir morar em Erechim. Ela comenta que já fez denúncia na prefeitura e não viu nenhum resultado. “Ninguém apareceu, eles visitam as nossas casas, mas ali ninguém entra”, observa. E, acrescenta, a quantidade  de mosquito da dengue que tem ali é terrível.

No início desse mês, Cintia presenciou uma cena no prédio que a deixou espantada. Ela viu dois jovens pendurados no último andar, sentados numa viga, sem nenhuma segurança. “Aqui debaixo gritei com eles e disse que ia chamar a polícia, aí eles saíram. Nesse dia entrei em casa e tremia, me coloquei na posição de mãe, como eu ficaria se fosse meu filho lá em cima?”, desabafa.

Cintia ressalta que a família teve que fazer uma cerca de arame farpado e colocar um sinalizador de presença nos fundos para tentar impedir as seguidas invasões na casa. “Chegaram entrar no galpão e tomar banho, carregaram tapetes, sabão, grampo de roupa e deixaram a lata do crack com as cinzas. No porão roubaram a televisão e o computador”, lembra.

E os problemas não param por aí. Cintia comenta que no ano passado foi retirada a madeira dos andaimes que estava pendurada nas paredes pelo lado de fora do prédio. Contudo, os andaimes de ferro foram deixados lá, alguns estão fixados nas paredes, mas muitos estão soltos e podem cair na rua a qualquer momento. “Se ao menos lacrassem para ninguém entrar e depois decidam o que vão fazer com isso aí. Uma hora dessas alguém vai cair lá de cima”, alerta.

Para o aposentado Pedro Bonatto, a situação do prédio como está é perigosa. O aposentado mora na mesma rua, nasceu e cresceu nessa região da cidade e passa todo dia em frente à construção. “É perigoso desmoronar esses ferros pendurados. E, alguém pode ficar escondido ali dentro e te atacar. Isso aí é brabo”, observa.

Prédio na rua Emílio Grando

O prédio abandonado na rua Emílio Grande está numa situação ainda pior que a edificação da avenida Silveira Martins. O tapume, que deveria isolar o acesso para o interior da obra inacabada, está no chão. Os andaimes de ferro e as madeiras estão suspensos sobre a rua podendo cair a qualquer momento sobre os pedestres e carros que passam no local. O movimento de moradores de rua e usuários de drogas no interior da obra é intenso. A tranquilidade e o sossego acabaram para a vizinhança, desde que a obra parou é só preocupação para os moradores.

O empresário Marco Aurélio Acosta Bisognin, que trabalha e mora ao lado do prédio abandonado, comenta que a construção iniciou há dois anos, e está parada há quase um ano. E desde o momento que interrompeu o trabalho é só problemas.

Conforme Marco Aurélio, já colocaram fogo duas vezes no prédio, a primeira vez, os bombeiros foram chamados, na outra, ele teve que fazer o chamado já que o fogo podia ter incendiado a sua casa, que é de madeira. “Além disso, tem o risco de madeira, ferros caírem em cima da minha casa”, observa.

Outra situação que o deixa muito preocupado é o grande número de moradores de rua dormindo no prédio e usuários de droga. “O quarto da minha filha fica ao lado da obra e tem muita gente usando droga ali. Tivemos que chamar a polícia três vezes em função dessa situação, que está gerando muitos problemas”, destaca.  

Enquanto isso, ressalta Marco Aurélio, o que fica é o risco diário que a família corre de ser assaltada, de cair alguma coisa em cima da casa ou de alguém num dia de vento ou temporal, e um mendigo colocar fogo e incendiar a casa. “Sobrou todo esse problema para nós”, conclui.

Os dois prédios citados nesta reportagem, de um total de cinco, estavam sendo construídos pela empresa Edificare que entrou em falência. Em torno de 110 pessoas compraram imóveis e estão sendo prejudicados por essa situação, assim como a vizinhança.

Situação da empresa

Segundo o advogado Abrão Jaime Safro, administrador judicial nomeado, o processo da construtora do prédio começou com uma recuperação judicial, mas a empresa não cumpriu o que se obrigou e aí foi decretada a falência. “Os únicos ativos são esses apartamentos e há uma discussão, inclusive dos adquirentes, se efetivamente esses bens pertencem ou não ao patrimônio da empresa. Na prática a empresa não tem qualquer recurso financeiro”, explica.

No momento, salienta Safro, o processo está com engenheiro civil perito, que está fazendo a avaliação de valor dessas obras e, também, estrutural, se foram bem executadas, se há defeito e o que falta para fazer. “Após isso, vai ser convocada uma assembleia com adquirentes e credores para fazer um plano e tentar continuar ou não o prédio”, destaca. A expectativa, segundo o advogado, é que essa assembleia aconteça no segundo semestre desse ano. Safro, acrescenta, a administração judicial está trabalhando para que se possa retomar as obras.

Poder público

Em relação ao prédio abandonado na esquina das Avenidas Silveira Martins com a Marechal Floriano o município esclarece que no ano de 2017, após tomar conhecimento via publicação em um jornal da cidade, foi informado que a construtora e incorporadora responsável por essas obras citadas havia pedido concordata. A mesma publicação citava que a referida possuía cinco obras inacabadas dentro do município.

“A Secretaria Municipal de Obras realizou pesquisas não encontrando projeto aprovado das edificações mencionadas na reportagem. A partir deste momento o município acionou o Poder Judiciário para que informasse quais eram as obras da referida construtora e incorporadora. Por não possuir processos, os responsáveis pelos terrenos perante a municipalidade são os proprietários dos mesmos, os quais foram devidamente notificados”, diz a nota.

A nota afirma que quando o município é comunicado sobre queda de tapumes ou assemelhados, obstruindo o passeio público, a equipe de construção civil é deslocada para fazer o recolhimento. “Inclusive o município prestou auxílio ao proprietário do terreno localizado na esquina das avenidas Silveira Martins e Marechal Floriano quando da retirada dos andaimes que estavam instalados naquela edificação”, esclarece.

Conforme o município, por se tratar de obra judicializada e com administrador constituído da massa falida, a procuradoria do município está novamente instruindo processo de providência junto ao administrador da massa falida.

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