A atuação junto aos povos indígenas do Rio Grande do Sul é uma missão de longa data da Emater/RS-Ascar, responsável pela Assistência Técnica e Extensão Rural e Social (Aters) no Estado. Desde o fim dos anos 1990, a Instituição desenvolve ações específicas voltadas às comunidades indígenas, respeitando suas particularidades culturais e promovendo o acesso a políticas públicas. A antropóloga Mariana de Andrade Soares coordena essas ações em âmbito estadual e destaca os avanços e desafios desse trabalho.
Segundo Mariana, o principal desafio inicial foi adaptar as práticas da agricultura familiar às realidades culturais dos povos indígenas.
"Foi necessário capacitar os profissionais e desenvolver metodologias que respeitassem as especificidades étnicas e culturais, com diálogo e escuta atenta", afirma.
O Rio Grande do Sul abriga oficialmente quatro povos indígenas: Kaingang, Guarani, Xokleng e Charrua. Essas etnias estão presentes em 74 municípios, e, de acordo com o Censo de 2022, mais de 36 mil pessoas se autodeclaram indígenas no Estado.
A atuação da Emater/RS-Ascar junto a essas populações se intensificou após a Constituição Federal de 1988, que rompeu com o regime tutelar anteriormente vigente e garantiu o direito à autodeterminação dos povos indígenas. A partir desse marco, a União, os estados e os municípios passaram a ter responsabilidade direta na formulação e execução de políticas públicas voltadas a essas comunidades.
Entre as principais ações da Emater/RS-Ascar estão:
- Mediação com instituições públicas para assegurar o acesso a políticas públicas;
- Assessoramento técnico de acordo com as demandas específicas de cada comunidade;
- Fortalecimento das práticas produtivas e culturais, com atenção à sustentabilidade e à preservação das tradições.
A luta pela demarcação e reconhecimento dos territórios tradicionais é uma das principais pautas das comunidades indígenas. "Sem a terra, não há como garantir a reprodução física, cultural, espiritual e econômica desses povos", avalia Mariana.
A etnia Kaingang é a mais numerosa no Estado e já possui parte de seus territórios reconhecidos, embora ainda enfrente desafios relacionados à gestão ambiental. Os Guarani, segunda maior população indígena do RS, vivem em maior vulnerabilidade, muitas vezes em áreas não regularizadas. Já os Xokleng e os Charrua têm presença mais restrita e também enfrentam obstáculos no reconhecimento de seus territórios.
Além da questão fundiária, a valorização da produção artesanal indígena é apontada como estratégia essencial para a geração de renda e a preservação cultural. "Cada peça artesanal carrega significados simbólicos profundos. Ao comprá-las, valorizamos essa cultura e contribuímos para a sustentabilidade das famílias indígenas, muitas delas chefiadas por mulheres", explica a antropóloga.
Em parceria com a Secretaria Estadual de Desenvolvimento Rural (SDR), a Emater/RS-Ascar tem promovido a inserção de artesãs e artesãos indígenas em feiras e eventos, ampliando a visibilidade de suas culturas e fortalecendo a identidade étnica no contexto social e econômico.
Mariana conclui com um apelo para que a valorização dos povos indígenas não se limite ao mês de abril: "Todo dia é dia de reconhecer a importância desses povos para a diversidade cultural e ambiental do nosso país. Eles têm muito a nos ensinar, especialmente diante dos desafios ambientais que enfrentamos", finaliza.