O que passa na mente de uma garotinha do interior, de apenas 13 anos de idade? Conhecer novos lugares? Explorar grandes centros? Expandir horizontes? A pré-adolescência normalmente causa revolva, provoca revoluções na vida pequenos jovens, e, se tratando daqueles que vivem no interior, por de certa forma estarem distantes da “cidade”, o transtorno é ainda maior.
Elien Eduarda Favaretto
Esse não foi o caso de Elien Eduarda Favaretto, que com a mesma idade, já ajudava o pai no trabalho do campo e sempre foi apaixonada pelo agro. Quando a irmã mais nova nasceu, suas responsabilidades aumentaram. Aos 18 anos, assumiu toda a parte financeira da fazenda, engajando-se ainda mais nas atividades.
“Eu cursava faculdade de Medicina Veterinária a noite e durante o dia, trabalhava com o meu pai. Chegava meia noite e meia, e cinco horas da manhã já estava acordada para auxiliar no serviço. Ele me ajudava a pagar a faculdade e eu o honrava com o trabalho”, conta a jovem.
Transformações
Com a morte repentina do pai, Elien viu sua vida sendo transformada, em um piscar de olhos. Em função disso, todas as atividades que eram feitas por ele, passaram a ficar a cargo somente da jovem. “Resolvi assumir todas as tarefas dele, pois estava por dentro dos negócios. Nunca tivemos funcionários, somente eu e ele, e assim permaneceu”, relata.
A única que sempre esteve a par de tudo dentro da propriedade, era Elien. “Da noite para o dia, toda a responsabilidade caiu em minhas mãos. Eu precisava sustentar minha família, manter a casa e cuidar da minha mãe. Segui e sigo até hoje firme nessa missão, pois mesmo enfrentando muitas batalhas, sinto grande orgulho de quem me tornei”, expõe.
Chefe da família
Engana-se quem pensa que estar a frente de um empreendimento é fácil. O profissional precisa lidar com múltiplos sentimentos, e tomar o maior cuidado possível com sua saúde mental. “Virei a ‘chefe da família’ e precisei procurar ajuda para conseguir viver a minha vida e não a deles. Foi difícil, mas hoje me sinto realizada”, ressalta.
Múltiplas atividades
Elien executa desde a parte financeira até a mão de obra. Trata o gado, limpa a invernada, capina, limpa, vacina e arruma as cercas. “Eu amo o que eu faço, a pecuária é minha grande paixão. Sempre digo que, o meu maior orgulho é chegar na propriedade e ver o gado. Ver meu esforço palpável com a beleza do lugar, os animais saudáveis, resultado da minha dedicação”, acrescenta.
Preconceito
A médica veterinária conta que, já enfrentou preconceito por ser mulher e jovem. “A maior parte das pessoas, mesmo conhecidos, me olhavam com cara de desmerecimento. Foi difícil, tinha vezes que dava vontade de desistir. Debochavam quando eu chegava com o caminhão para carregar o gado, fazendo questionamentos como: você que vai dirigir o caminhão?”, exemplifica.
Motivação
Nem mesmo a dúvida e receio alheio foram capazes de desmotivar Elien, muito pelo contrário. “É constrangedor para quem está lutando e batalhando diariamente para vencer. Porém, serviu de impulso. Busquei desenvolver ainda mais habilidades e me tornar a pessoa que sou hoje”.
“Sua propriedade tem que ser motivo de orgulho. Siga em frente, mostre para todos que você consegue, basta querer”
Amor pelo agro
A jovem de 26 anos revela que, para viver o agro, é preciso amar a profissão. “Dependemos das condições climáticas e questões que não estão ao nosso alcance. Você tem que ter consciência de que vai passar por momentos difíceis, trabalhar até tarde e acordar antes do sol nascer, mas ao mesmo tempo possui um paraíso dentro da sua casa todos os dias”, frisa.
Realização de sonhos
Hoje, Elien, que mora com a irmã mais nova e a mãe, está realizando seu maior sonho que era construir uma casa nova para a família. “Tudo o que construímos com nosso suor, esforço e honestidade, resulta em grandes conquistas. Foi uma jornada de decisões difíceis, mas superei tudo e hoje sou realizada e sei que meu pai sempre me mostrou o caminho, me moldando parecida com ele para estar aqui hoje”, revela, emocionada.
Novos objetivos
Conforme a jovem, o amor move a profissão e novos sonhos surgem. “Agora, almejo implantar uma granja de suínos na propriedade, para poder otimizar a produção, usar o adubo para fertilização do solo para a pastagem e aumentar a produção de bovinos. Sou caminhoneira e ainda quero fazer uma viagem pilotando uma carreta e construir minha casa, o meu cantinho próprio”, finaliza Elien.