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Rural

Agroecologia: “é muito importante não desistir e continuar a sonhar”

Afirma engenheira agrônoma, Ingrid Margarete Giesel, que dedicou a vida a difundir conhecimentos para mudar a matriz produtiva, mas comprometida com a sustentabilidade social e ambiental

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"Precisamos investir no fortalecimento da produção agroecológica no Brasil”
Por Ígor Dalla Rosa Müller
Foto Divulgação

Uma vida dedicada à alimentação saudável e cuidando da natureza. Assim, pode-se definir a atuação da engenheira agrônoma, Ingrid Margarete Giesel, no Centro de Apoio e Promoção de Agroecologia (CAPA), em Erechim. Ela encerra suas atividades depois de 35 anos de trabalhos voltados à agroecologia, sendo uma das pioneiras na implantação deste modelo de produção de alimentos, na região Alto Uruguai, sustentável, social e ambientalmente. A seguir, fique com a entrevista da engenheira agrônoma, que se sente realizada depois de lutar anos pelo bem-estar no campo.         

 

BD: Qual sua avaliação depois de 35 anos de trabalho dedicados à agroecologia na região?

Ingrid Margarete Giesel:  Após 35 anos de trabalho, posso dizer que o tempo passou rápido demais, teria muitas coisas que gostaria de fazer, mas me sinto realizada, foram anos de muitos desafios, resistências, conquistas e vivências agroecológicas. Na região, temos muitas iniciativas a destacar, como grupos e associações de agricultoras e agricultores agroecologistas, cooperativas, agroindústrias, um Núcleo de Agroecologia do Alto Uruguai (NAAU), feiras agroecológicas, trabalhos nas escolas e universidades, pessoas e entidades trabalhando pela agroecologia, muitas pesquisas, cursos de homeopatia na agropecuária, o que nos faz sonhar com um rural com gente, com vida e alimentos saudáveis, com a agroecologia presente.

 

Principal objetivo da agroecologia? Ela é uma ferramenta para construir a segurança alimentar?

Podemos afirmar que o principal objetivo da agroecologia é produzir alimentos saudáveis, comida boa, comida de verdade para todas as pessoas, é cuidar da natureza, é o bem-viver. A agroecologia fortalece a segurança alimentar e nutricional e, também, a soberania alimentar, garantindo a justiça social e ambiental. É preciso reformular as políticas públicas agrícolas, de forma a promover o incentivo e a produção agroecológica de alimentos.

 

Agroecologia está ligada à preservação cultural?

Com certeza. São muitas as comunidades tradicionais que estão se inserindo em processos de transição/conversão agroecológica, aliado ao resgate de suas culturas. As práticas de uso sustentável da biodiversidade pelos povos indígenas, comunidades tradicionais e pela agricultura camponesa têm assegurado a conservação dos bens comuns, terra e água. É preciso avançar na valorização da diversidade cultural e investir no reconhecimento, seleção, melhoramento e diversificação dos usos de recursos locais da agrobiodiversidade. As tradições alimentares locais são estratégicas para alcançar a segurança e soberania alimentar.

 

O alimento agroecológico tem mais valor no mercado?

Segundo dados de pesquisa, os preços dos alimentos agroecológicos, geralmente, são mais caros dependendo do canal de comercialização. Nos circuitos mais curtos, os preços são justos para as famílias agricultoras e acessíveis as pessoas consumidoras. Também existe uma diferença de preços significativa entre os alimentos perecíveis e os industrializados, cidades menores e capitais, feiras e supermercados. Enquanto consumidoras e consumidores é preciso refletir e avançar sobre a comercialização dos alimentos e as alternativas possíveis.

É importante destacar que mundialmente cresceu a busca por alimentos saudáveis, mas precisamos investir no fortalecimento da produção agroecológica no Brasil. É a partir da mobilização social e política em defesa da saúde, que vamos transformar a nossa realidade, e investir em uma outra forma de produzir alimentos.

 

O gostaria de ressaltar nestes anos todos de trabalho?

Eu vejo a agroecologia como um espaço de vida, de esperança para o rural e o urbano, de diálogos. Ela, hoje, é reconhecida pela academia, pelas empresas de pesquisas, pela extensão rural, facilitando a sua divulgação e sensibilização para a sociedade. É essa agricultura que pode solucionar os desafios mundiais relacionados à fome, saúde, desigualdades sociais, mudanças climáticas, destruição ambiental, entre outros.

Precisamos investir e estimular reflexões para que as relações sociais sejam transformadas para a garantia da democracia, cidadania, equidade de gênero e da sustentabilidade ambiental. Há construção da igualdade entre homens e mulheres, a partir da agroecologia, capaz de gerar renda desconcentrada e comprometida com a sustentabilidade socioambiental.

Um conjunto de organizações da sociedade civil e movimentos sociais têm pautado a agroecologia, propondo a mudança da matriz produtiva. É muito importante não desistir, continuar a sonhar. Embora pode parecer, mas não estamos na contramão deste processo. Queremos uma vida digna para todas as pessoas, estejam elas no meio rural ou na cidade. Este é o projeto que nos desafia a investir energia e esforços todos os dias, no sentido de construir um mundo melhor, a reconstrução ecológica da agricultura, uma alimentação rica e diversificada, que traz saúde e vida plena.

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