Para uma boa amizade, qualquer minuto é sagrado. E numa dessas visitas relâmpago em que os amigos sopram as brasas da amizade, ganhei um presente do amigo Gilberto Correia. Jornalista e pastor evangélico, me presenteou com um livro que contém 365 reflexões e que se chama Momentos com Cristo.

Pílulas de bom dia

Desde que ganhei o livro, comecei a ler a página do dia antes de começar o trabalho. Sem inspiração para escrever, lembrei da mensagem que havia lido pela manhã. Falava da recompensa da humildade. Em síntese, diz que o sujeito que cultiva o espírito de humildade, torna-se mais protegido contra as falácias e armadilhas da vida quotidiana. Em outras palavras, a humildade traduz a essência de se viver sem grandes expectativas e, portanto, sem sofrer as decepções que ocorrem quando não atingimos certos objetivos que colhemos pelo caminho.

Promessas

É possível que a primeira frase do pequeno texto seja a própria conclusão. Dizia assim: “pouca coisa é capaz de despertar mais o imaginário e motivar o coração que as ricas promessas de um permanente estado de alegria”. A partir daí é que o espírito da humildade se torna consolador. Promessas são incertezas. Quando dependem da vontade alheia, são ainda mais arriscadas, por serem pontos de partida e não estações de chegada. Entre o início e o fim, há uma série de variáveis capazes de transformar a almejada alegria em frustração.

Os livros

Mas voltemos aos livros. E olha que nem só de livros vive o homem. Felizmente, em comparação à décadas passadas, hoje são poucos os que não sabem ler. No entanto, os que aprenderam ainda vivem como os analfabetos. Ler se tornou uma perda de tempo. Não que se perca tempo ao ler, mas sim porque ninguém mais tem tempo para tal. Acomodar-se compassivamente numa poltrona e se deliciar com a leitura tornou-se um artigo de luxo na vida das pessoas. Cansadas, as pessoas já nem a televisão assistem. Está tudo na palma da mão. Distraem-se rolando imagens para cima ou para os lados. O que antes fazíamos com as páginas, hoje fazemos com as telas.

Outra pérola

E nessas experiências com os livros, acabei encontrando um pequenino livro de pensamentos onde li algo relamente impactante: “procura viver e agir ao longo da vida, como à beira da morte gostarias de ter vivido”. Não há dúvidas, é  uma grande verdade. Dessas que até o estômago dói quando lemos. Se aprendêssemos a viver com esta mentalidade, de que amanhã poderá ser o último dia, certamente não perderíamos tempo com coisas futuras, com as tais promessas. Aceitar a finitude e mudar o comportamente é sim um gesto de humildade.

A doença da vez

Nossa sociedade está adoecida. Essa é uma verdade de que não podemos negar. Os índices de suicídio entre os jovens e a quantidade de pessoas que desenvolvem distúrbios psicológicos é outro indicador de que as coisas vão mal. Vivem-se os dias sempre iguais, numa busca quase que cega pela tal felicidade. Modelos mentais que nos chegam a todo o momento e nem nos damos conta. Perdemos nossas identidades e com isso, passamos a ter de nos enquadrar em modelos identitários que nos são enviados a partir do que um algoritmo nos recomenda. Com o tempo, é só isso que nos é mostrado. Onde foi parar a nossa essência? Onde está a nossa capacidade natural de dar um basta, de mudar o sentido das coisas?

Jejum

Há quem discorde disso tudo. Há quem viva muito bem, graças a Deus. Para alguns, esse novo meio de viver conectado a tudo e a fazer tudo ao mesmo tempo pode funcionar perfeitamente. Claro que sim. Nada contra. No entanto, não somos ilhas. De que adianta ser feliz em um mundo de gente infeliz? É preciso recuperar e recriar certos hábitos. Sobretudo, é preciso ter humildade e reconhecer que a vida não é feita de promessas, nem das que fizemos para nós mesmos, tampouco das que nos fazem a todo o momento e sequer nos damos conta. É preciso desconectar. Vem aí a quaresma, um bom motivo para que possamos jejuar de certos comportamentos e, quem sabe, reencontrar nossa verdadeira essência.