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A história pelos olhos dos Tomazoni

Boa parte das imagens de Erechim em seus primeiros anos levam a assinatura dos fotógrafos pioneiros Manoel e Clemente

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Foto do Estúdio Tomazoni
Foto Tomazoni 1.jpg
Por Da redação - jornalismo@jornalbomdia.com.br
Foto Divulgação

Boa parte das imagens de Erechim em seus primeiros anos levam a assinatura dos fotógrafos pioneiros Manoel e Clemente

Basta vasculhar os arquivos fotográficos de Erechim em seus primeiros anos para encontrar o sobrenome ‘Tomazoni’ estampado em grande parte deles. A inscrição – na maioria das vezes visível no canto inferior das imagens – mostra o papel de dois irmãos descendentes de italianos na perpetuação da história da cidade.

Para entender os motivos que os trouxeram à Capital da Amizade em meados da década de 1920, a reportagem do Bom Dia encontrou parte do histórico da família Tomazoni na fotografia no Arquivo Histórico Municipal de Caxias do Sul. Com base em dados do livro “O instante e o tempo: a fotografia em Caxias do Sul, 1885-1960”, lançado neste ano na Festa da Uva, é possível conhecer a trajetória de Manoel e, especialmente, de Clemente, inclusive sua passagem por Erechim até o retorno à cidade na Serra. Confira:

Natural de Rovereto, comuna italiana da região Trentino-Alto Ádige, Ângelo Tomazoni deixou a Itália aos doze anos, junto aos pais e irmãos; chegaram na Colônia Caxias em janeiro de 1877, estabelecendo-se no Travessão Santa Rita da Terceira Légua. Seu casamento com Albina Colomba Pergher Tomazoni teve como frutos os filhos Manoel, Francisca, Elisa, Margarida, Judith, Madalena, Clementina, Angelina, Benjamim, Frederico, Lourenço, Aquiles e, finalmente, Clemente Tomazoni, nascido a 11 de setembro de 1919.

Se a terra era atrativa para os pais, não o foi para a maioria dos filhos. Um dos primeiros a buscar outros horizontes foi Manoel. Antes, porém, aprendeu o ofício da fotografia com Júlio Calegari. Este tomou o rumo das “terras novas”, para onde seguiram muitos dos descendentes dos primeiros imigrantes. Fixou residência na cidade de Erechim em meados da década 1920. Levando na bagagem o seu aprendizado de fotógrafo e as melhores máquinas disponíveis no mercado, abriu seu estúdio com o nome de “Foto Tomazoni”. Este fotógrafo de espírito empreendedor, no final da década 1940, iniciou suas primeiras experiências de cinegrafista com a criação da “Tomazoni Filmes”. Como produtor e cinegrafista, Manoel registrou os principais eventos de Erechim e cidades da serra gaúcha, especialmente Caxias, além de produzir filmes promocionais de empresas.

Aos quinze anos, com a certeza que emana da alma, Clemente Tomazoni não desejava trabalhar na terra, almejando ser fotógrafo. Mas como dizê-lo, se o pai desejava que ele fosse padre? Favorecido pela cumplicidade da mãe, Clemente fugiu de casa para morar com o irmão Manoel, em Erechim, onde começou a trabalhar no estúdio “Foto Tomazoni” como auxiliar de laboratório, passando por todas as etapas que envolvem o processo de revelação, ampliação e impressão das imagens fotográficas. O passo seguinte foi aprender a retocar, a mexer com a máquina, a usar e interpre­tar a luz, a escolher o melhor enquadramento das poses e cenas a fotografar.

Clemente evoluiu para os retratos e, também, viajava para o interior para fotografar casamentos, batizados e as sagas religiosas. Trabalhou como funcionário da “Foto Tomazoni” até 1950, quando decidiu montar seu próprio estabelecimento. Casado e pai de dois filhos, Clemente retornou a Caxias do Sul, cidade que escolheu para realizar sua independência profissional: o estúdio “Clemente Tomazoni Fotógrafo” foi inaugurado em 16 de maio de 1950, no centro da cidade, e executava todos os gêneros de fotografia.

Posteriormente, Clemente Tomazoni deixa o centro da cidade para se instalar no Bairro Nossa Senhora de Lourdes, um ponto promissor dada à existência de indústrias, vinícolas, casas comerciais e uma população tipicamente operária. O novo estúdio abriu suas portas em dezembro de 1958. A presença de um fotógrafo no subúrbio indicava que a fotografia chegava aos extratos sociais mais populares. Nessa fase, o aumento da clientela permitiu a abertura da primeira filial, cuja atividade se estendeu até 1961, quando foi vendida ao funcionário João Rech.

Em 1959, a empresa passou a chamar-se “Studio C. Tomazoni”, denominação que manteve até 1969. Nesta época, o filme colorido entrava no mercado e, atento às inovações, Clemente percebeu que ali estava o futuro da fotografia: com os funcionários Waldemar Lazzarotto e João Rech firmou sociedade para montar um laboratório a cores. Ao final de um ano, a sociedade estava desfeita, Clemente adquiriu a parte dos sócios e, com o filho João Alberto, deu continuidade ao estúdio com a designação “Laboratório Foto-técnico Tomazoni Ltda.”

Em 1978, Clemente Tomazoni, João Alberto Tomazoni, Sérgio Mazzocchi (genro) e Antônio Tomazoni (sobrinho) constituíram nova sociedade com a razão social “Tomazoni Laboratório Fotográfico a Cores Ltda.”. Neste mesmo ano, a empresa iniciou parceria com a Kodak, quando a loja é ampliada para a venda em atacado de equipamentos fotográficos. Em 1979, o estúdio Tomazoni inaugura sua primeira filial a trabalhar com fotografias coloridas; nos padrões mundiais da Kodak, foram criadas outras cinco filiais nas cidades de Caxias do Sul, Novo Hamburgo, Farroupilha e Bento Gonçalves.

Clemente Tomazoni casou com Odila Maria Susin, com quem teve os filhos Maria Lúcia, João Alberto e Maria Cristina. Faleceu em 14 de janeiro de 1990.

Os sucessores deram continuidade ao legado deixado por ele. A emergência da fotografia digital afetou a empresa, que tentou se adequar, contratando profissionais que dominavam a nova tecnologia. Paralelamente, fechou as filiais, cujo faturamento não compensava a sua permanência. Com a morte prematura de João Alberto, em 18 de março de 2009, o “Tomazoni Laboratório Fotográfico” foi reestruturado na tentativa de reverter o processo de declínio. Em meio ao difícil processo de transição, às vésperas do natal de 2009, o velho Studio Tomazoni fechou suas portas para não mais abrir.

Fontes: FRIES, Sônia Storchi. O instante e o tempo: a fotografia em Caxias do Sul, 1885-1960; Caxias do Sul, RS: Secretaria Municipal da Cultura, 2016. (Textos Sônia Storchi Fries; pesquisa Sônia Storchi Fries, Susana Storchi, Elenira Prux; seleção de fotografias Susana Storchi; colaboração equipe técnica do Arquivo Histórico Municipal João Spadari Adami; prefácio Boris Kossoy; introdução Liliana Alberti Henrichs).

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