O ano de 2024 foi um período de desafios imensos para o Rio Grande do Sul, que enfrentou fortes inundações e outros impactos climáticos, afetando gravemente a vida de milhares de gaúchos. No entanto, em meio a essas dificuldades, o Estado também testemunhou um avanço significativo em um setor fundamental para a saúde: os transplantes de órgãos. Segundo dados da Central de Transplantes da Secretaria Estadual da Saúde, foram realizados 1.634 transplantes no ano passado, o que representa um aumento de 5,6% em relação aos 1.546 realizados em 2023.
O destaque ficou para os transplantes de córnea, que atingiram 882 ocorrências em 2024, superando os 834 registrados no ano anterior. Os transplantes de fígado também apresentaram um crescimento, com 134 operações realizadas, embora ainda abaixo das 142 de 2023. Transplantes de rim e pulmão também subiram, somando 557 e 35, respectivamente.
Apesar da evolução positiva nos números, os efeitos das calamidades climáticas impactaram o processo de doação e captação de órgãos. Durante o auge das inundações em maio, o Estado foi temporariamente retirado da rede nacional de transplantes devido a dificuldades logísticas. James Cassiano, coordenador adjunto da Central de Transplantes, explicou como as enchentes complicaram a coleta de órgãos: "A dificuldade de acesso e deslocamento nas cidades afetadas prejudicou nossa capacidade de coletar órgãos", disse. Mesmo assim, com muita dedicação, 40 transplantes de córnea foram realizados a partir de estoques disponíveis.
Em relação às notificações de morte encefálica, o Rio Grande do Sul registrou 780 casos, com 194 doadores efetivos. Embora os números tenham ficado abaixo de 2023, o percentual de conversão de notificações em doações (24%) ainda superou a média nacional, que é de 19%. Isso reflete o esforço e a colaboração tanto das equipes de saúde quanto das famílias que, mesmo em momentos difíceis, escolheram doar.
Erechinense na fila de transplante de fígado
Em meio a esses números, a história de pacientes que aguardam por um transplante reflete o lado humano e real dessa luta. Um exemplo é o relato de um paciente (que não quis se identificar) e que está na fila desde 2021, após ser diagnosticado com hepatopatite crônica e insuficiência hepática. Ele descreve o processo de triagem e a importância de se manter monitorado, aguardando por uma compatibilidade de órgão que possa salvar sua vida.
"Fui encaminhado ao hospital, onde fui monitorado e, apesar de um período de estabilidade, o transplante ainda é necessário. O processo depende da disponibilidade de órgãos, da compatibilidade e da urgência do meu estado de saúde. Sei que é um caminho longo e desafiador, mas sigo lutando, com a ajuda da medicina e da fé", conta ele.
De acordo com o paciente, a espera não tem previsão, pois depende da escassez de órgãos e do estado de saúde de outros pacientes. No entanto, ele lembre que o sistema permite que o pacientes em pior situação de saúde passem a frente na fila do transplante.
Em 2024, apesar de todos os desafios enfrentados, o Rio Grande do Sul conseguiu manter e até superar algumas das metas relacionadas aos transplantes, graças ao esforço das equipes de saúde, à colaboração de doadores e seus familiares, e à resiliência de quem aguarda a chance de uma segunda vida.