A cada apresentação, o sentimento compartilhado de alegria, emoção, entusiasmo e encantamento. Ao todo, 16 artistas, sendo 11 da mesma família, integram o Circo Vitória (que em breve irá se chamar ‘Berlim Espetacular’) e retomou recentemente as atividades, após dois anos de projetos interrompidos. O motivo? A pandemia causada pelo Coronavírus, que alterou a rotina de toda sociedade, inclusive do grupo que já estava na região em 2020 e precisou fazer uma parada obrigatória e se adaptar a outros empregos para sobreviver em um tempo tão desafiador.
Nas últimas semanas eles fizeram uma temporada em Erebango e o Bom Dia foi conhecer de perto um pouco mais sobre a história dessa grande família que tem como compromisso de vida, levar a alegria por meio da arte e da cultura. Confira!
A recepção
Logo na chegada, a reportagem encontrou um dos responsáveis por expandir a tradição do circo à outras gerações: Paulo Prado Souto, ou melhor, o palhaço Biro Biro. Além de um personagem animado, ele não esconde a felicidade em poder retornar aos trabalhos com o que mais amam fazer. Junto a esposa Mara, filhos e todos os familiares, ele revela que seu cuidado permanente é para que a essência do circo não seja perdida. “É como uma viagem e o circo é uma espécie de pequeno mundo dentro do mundo e o palhaço é uma eterna criança. Para nós, o mais importante não é o aspecto financeiro, mas sim, o valor incalculável que é a família”, comentou, citando que o nome do circo de seu pai, há 60 anos, chamava-se Los Angeles. Atualmente, além de Biro Biro, seu irmão atua nas atividades do circo Texas.
Desafios e expectativas
Assim como a vida de todo ser humano, o dia a dia não é marcado somente por fatos alegres. Biro Biro contou que, há alguns anos, foi preciso lidar com um período desafiador a partir de um problema de saúde do filho Isaías, o palhaço Mandioquito, que passou por cinco cirurgias do coração. “Ficamos em Nova Santa Rita por 12 anos, sem realizar atividades do circo, até ele melhorar. Após, prosseguimos os trabalhos. Agora ele precisa fazer mais um procedimento e aguarda o agendamento que não havia sido feito em razão da pandemia”, acrescentou o pai, orgulhoso e grato em acompanhar a evolução da equipe.
Tudo estava muito bem até o ano de 2020, quando o Circo Vitória chegou em Ipiranga do Sul e após uma semana, foi surpreendido pela pandemia. “Pensávamos em 40 dias e o período se alongou. Um dia, desmontamos o circo e ficamos praticamente morando no terreno. O povo nos acolheu muito bem e nos ajudou bastante”, recordou.
Nesse tempo, a família demonstrou habilidades em outras áreas, como pintura, serviços nas lavouras, em oficinas mecânicas, manutenção em silos e muito mais. “Conseguimos comprar a lona nova com o dinheiro que recebemos desses trabalhos. Foi uma fase delicada, principalmente no campo psicológico, afinal, foi necessária uma troca muito radical e tínhamos muita saudade do calor humano e dos sorrisos da plateia. Vivemos mais de riso do que de dinheiro. O artista depende do público e sem ele, não somos nada”, afirmou.
Na metade da pandemia, sem estimativa de retorno, a equipe precisou ser ainda mais forte, vendo os materiais e a empresa que construíram, sendo diretamente afetados pelas consequências da pandemia.
Um novo momento
Agora, com o início da retomada das atividades, num contexto mais otimista, a expectativa dos artistas é muito positiva. “Estamos com a família sempre unida, é a nossa base e após vem o circo e os bens materiais. O que mais nos agrada é a viagem e a surpresa. Quando chegamos em uma cidade não sabemos como será a recepção. Aos poucos ficamos sabendo um pouco mais da história de todo o povo e é interessante pela convivência com as pessoas”, mencionou.
Os integrantes do circo residem nos próprios ônibus e, a cada espetáculo, garantem a proximidade e o carinho com o público.
Missão: disseminar a alegria
Moisés é um dos filhos de Biro Biro e afirma que é muito bacana essa convivência permanente com a família. “Temos uma missão, desde os primórdios quando o vô criou o circo. Ele sempre teve uma vida social e até hoje gostamos de levar a magia do circo aos lugares mais carentes, às pessoas em situação de vulnerabilidade social. Por isso, sempre distribuímos ingressos. Abrimos mão de lucros para ver o sorriso em cada criança”, declarou, acrescentando que o pai é uma inspiração. “Ouvimos sempre os relatos sobre como era fazer circo quando ele era criança, com a propaganda realizada à cavalo, com deslocamento feito de carroça, enfim, tudo muito improvisado. Para nós é gratificante levar essa tradição do circo e jamais deixar que isso se perca, valorizando as raízes. Queremos persistir cada vez mais e levar a alegria para todos os cantos, principalmente do Rio Grande do Sul”, enalteceu Moisés.
Ele revelou, ainda, que todos estão muito felizes com a retomada, mesmo que ainda seja gradual, com a necessidade do uso de máscara, mas a vacina amplia a esperança de dias melhores. “São dois anos que as pessoas tiveram que ficar sem diversão. Fomos considerados os trabalhos ‘não essenciais’ mas para nossas famílias eram fundamentais. Desse modo, poder vivenciar e desenvolver nossa arte, é incrível”, ressaltou.
Agora, esse momento é repleto de entusiasmo. “Circo Vitória: ontem, hoje, amanhã e sempre: uma eterna família, essa é a essência que iremos preservar. Todos estão de parabéns e agradecemos a cada um que integra a equipe. São artistas e a mais nobre das artes é fazer o outro feliz”, enfatizaram pai e filho.
O Circo Vitória estreia na sexta-feira (11), no município de Estação.